As eleições indianas finalmente acabaram com um antigo debate sobre se a origem estrangeira de Sonia Gandhi a desqualificava para comandar a maior democracia do mundo, como chefe da dinastia Nehru-Gandhi.
O eleitorado ignorou uma campanha, muitas vezes insultuosa e pessoal, em que a oposição insistia no fato de ela ter nascido na Itália. Gandhi recebeu um claro mandato na quinta-feira, destronando a coalizão nacionalista hindu que a considerava desqualificada para governar.
"Questões persistentes sobre os antecedentes estrangeiros de Sonia deveriam ser silenciadas de uma vez por todas pela grande onda de apoio ao seu partido", disse o jornal Times of India, acrescentando que ela foi a escolha popular para o cargo de primeiro-ministro.
"A mensagem mais clara dos eleitores é que a origem estrangeira da sra. Gandhi não é -- nem foi -- um problema", disse o editorial de outro jornal, o Hindustan Times. "Não há dúvida de que o cargo de primeiro-ministro está à disposição da sra. Gandhi."
Sonia Gandhi substituiu seu marido, o primeiro-ministro Rajiv Gandhi, como chefe do Partido do Congresso sete anos após seu assassinato, em 1991. Ela é regularmente atacada por sua origem estrangeira.
Narendra Modi, ministro-chefe do Estado de Gujarat, de linha nacionalista hindu, já chegou a chamá-la de "cadela italiana". Nesta campanha, a aliança liderada pelo partido Bharatiya Janata, que tentava se manter no poder, disse que seria um insulto para o país, com mais de 1 bilhão de pessoas e uma história de regimes colonialistas, ser governado por alguém que nasceu no exterior.
Em seu manifesto eleitoral, a coalizão nacionalista prometia proibir que estrangeiros concorressem a cargos públicos. Modi e o ministro-chefe Jayalalitha, de Tamil Nadu, que também fez uma campanha voltada para os ataques a Gandhi, estão entre os maiores derrotados nesta eleição. Jayalalitha não conseguiu uma só cadeira no Parlamento, e o Partido do Congresso elegeu 12 em Gujarat, dobrando sua bancada.
"Sonia emergiu como a viúva injustiçada, oferecendo a si e a seus filhos como defensores dos marginalizados e oprimidos", disse o Times of India, referindo-se a Rahul e Priyanka Gandhi, que participaram ativamente da campanha da mãe.
O Partido do Congresso conseguiu, junto com seus aliados formais e os comunistas, que prometeram apoio, mais do que as 272 cadeiras necessárias para formar a maioria no Parlamento.
Os novos parlamentares se reúnem no sábado para escolher o seu líder, quase certamente Gandhi, que estará então em condições de ser indicada para a chefia do governo.
Para um analista, a eleição dela mostra que os indianos são liberais e tolerantes. "Isso simboliza algo raro no mundo democrata, uma tradição liberal e tolerante que constitui a psique indiana", escreveu H. K. Dua no jornal Tribune.
De fato, quando questionados sobre a origem estrangeira dela, muitos moradores de aldeias de todo o país têm a resposta na ponta da língua: "Ela se casou com a nossa família, ela é nossa filha."