A intervenção do presidente dos EUA, George W. Bush, no caso de Terry Schiavo abriu velhas feridas no Texas, com os opositores da pena de morte afirmando que suas declarações de apoio a uma "cultura da vida" são vazias, já que houve tantas execuções no Estado quando ele era governador.
Bush disse que interveio no caso porque os Estados Unidos devem presumir a favor da vida. Mas, enquanto governava o Texas, houve 152 execuções no Estado, e em algumas delas a culpa era duvidosa, afirmam os que o criticam.
- É a hipocrisia multiplicada por mil - disse o professor de direito da Universidade de Houston e advogado de defesa nos casos de pena de morte David Dow.
- Vejo tantos, tantos casos em que há dúvidas significativas sobre a culpa de alguém ou se a pena de morte é a sentença adequada, mas ele nunca disse nada - afirmou David Atwood, presidente da Coalizão contra a Pena de Morte do Texas.
- Não posso dizer que ele realmente se importe com a vida. Todos nós reconhecemos que há uma diferença entre uma pessoa inocente e alguém que cometeu um crime hediondo. Dizer que uma vida é importante e outra não é, isso é política - afirmou ainda Atwood.
Bush defende o alto número de execuções afirmando ter a convicção de que todos os executados no Texas eram culpados, pois tinham recebido um julgamento justo, e dizendo acreditar que a pena de morte contém o crime. Ele interrompeu férias no Texas e foi a Washington para assinar uma lei urgente, aprovada pelo Congresso na última segunda-feira, obrigando o tribunal federal a reavaliar o caso Schiavo.
Schiavo, 41, está em estado vegetativo desde que sofreu um enfarte em 1990. Na semana passada, um tribunal da Flórida, a pedido do marido, determinou a remoção do tubo que a alimenta, mas os pais dela defendem que o tubo seja mantido.
- Em casos como esse, em que há questões sérias e dúvidas significativas, nossas leis e nossos tribunais devem presumir a favor da vida - disse Bush, que costuma citar a idéia de criar uma "cultura da vida" ao limitar o aborto e as pesquisas com células-tronco embrionárias.
Quando se trata da pena de morte, seu comportamento não é o mesmo, afirmam seus críticos. Entre 1995 e 2000, ele só usou seu poder de governador uma vez para barrar uma execução. Em 2000, o Estado bateu o recorde norte-americano com 40 execuções, incluindo a de Gary Graham, cuja culpa era questionada e que se transformou numa polêmica internacional.
Especialistas jurídicos afirmam que Bush não está sendo totalmente coerente, porque em 1999 assinou uma lei no Texas semelhante à lei em que o tribunal da Flórida se baseou para determinar a remoção do tubo de alimentação de Schiavo.
- Se isso tivesse acontecido no Texas, teria acontecido a mesma coisa - disse John Robertson, professor da faculdade de direito da Universidade do Texas e autor de um livro sobre bioética
Na última segunda-feira, o porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan, disse que a decisão do presidente se baseou em princípios, e não em política.
- O presidente sempre vai estar do lado da defesa da vida - afirmou.