Dirigentes da oposição venezuelana que lideram uma greve geral de 24 dias contra o presidente Hugo Chávez classificaram nesta quarta-feira de "hostil" qualquer possível ajuda do futuro Governo brasileiro, de Luiz Inácio Lula da Silva, para abastecer a Venezuela de combustíveis, informou a agência de notícias France Presse. O líder oposicionista Timoteo Zambrano, que participa de uma comissão de negociações formada por representantes do Governo e dos grevistas, afirmou que uma ajuda brasileira a Chávez seria uma violação expressa da soberania e um sinal de não-reconhecimento do conflito venezuelano. "É uma atitude hostil à sociedade democrática, com a Coordenação Democrática (a entidade na qual os oposicionistas estão reunidos, na greve)", disse Zambrano à rede de televisão Globovisión. O dirigente acrescentou que o anúncio sobre o estudo de uma possível ajuda brasileira, feito na terça-feira pelo assessor internacional de Lula, Marco Aurélio Garcia, só "busca romper a paralisação cívica nacional", convocada pela oposição para exigir a renúncia de Chávez ou eleições antecipadas. Garcia, que na semana passada visitou Caracas para analisar o conflito venezuelano, informou que só depois da posse de Lula, no Ano Novo, é que o futuro presidente brasileiro e Chávez discutiriam a possibilidade de uma assistência mútua no setor petrolífero. Desabastecimento amarga o Natal Milhares de venezuelanos desistiram, na terça-feira, de comemorar a noite do Natal, enquanto filas quilométricas de motoristas em busca de combustíveis aumentavam em frente aos postos de gasolina em todo o país. A greve geral, à qual aderiram a maioria dos funcionários da estatal Petróleos De Venezuela SA (PDVSA), praticamente paralisou as venda de óleo cru do quinto maior exportador mundial, além de provocar uma crise de desabastecimento no país. O protesto, que começou em 2 de dezembro passado, vem causando uma corrida desenfreada aos supermercados e aos bancos, aumentando ainda mais a instabilidade política e econômica. A produção de petróleo na Venezuela encontra-se, atualmente, abaixo dos 200 mil barris por dia - o que equivale a 6,5 por cento dos 3,1 milhões de barris por dia que o país produziu, em média, no mês de novembro, segundo um porta-voz da PDVSA. O atual volume de produção é suficiente apenas para prover serviços básicos internos. A oposição, representada por líderes empresariais, sindicais e políticos, exige a renúncia de Chávez e a antecipação das eleições presidenciais previstas para 2006. O chefe de Estado é acusado por seus adversários de levar a nação sul-americana à ruína econômica e de querer implantar no país uma ditadura comunista. Chávez rebate afirmando que os protestos têm um fundo "golpista" e insiste em que a única via constitucional que poderia levá-lo a deixar o poder é um referendo revogatório, que só pode ser convocado a partir de agosto de 2003.
Oposição venezuelana classifica de "hostil" qualquer ajuda brasileira a Chávez
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Quarta, 25 de Dezembro de 2002 às 22:03, por: CdB