A busca por um acordo global de comércio trocou a fria Europa pelo ensolarado Rio de Janeiro nesta sexta-feira com poucos sinais de que o clima para um grande avanço nas reticentes negociações tenha melhorado substancialmente. Representantes dos Estados Unidos, União Européia e Brasil, que serão mais tarde acompanhados pelo diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, estão reuniram-se para as chamadas conversas informais para tentar resolver as divergências sobre a abertura dos mercados.
As negociações deste mês em Genebra e Londres avançaram pouco e as autoridades de todos os lados diminuíram as expectativas de que qualquer decisão dramática vá surgir com a reunião de dois dias no Rio de Janeiro.
- Os números fundamentais não mudam apenas por causa do local do encontro - disse à agência inglesa de notícias Reuters o Comissário Europeu, Peter Mandelson, antes de entrar na sala de reuniões.
O encontro, que acontece no elegante hotel Copacabana Palace, local lendário para playboys e estrelas de rock, não está normalmente associado aos esforços para formar uma nova ordem comercial em todo o mundo. No entanto, se eles olharem além dos aposentos, terão uma visão completa do tipo de desigualdade que as negociações globais de comércio buscam diminuir -- as favelas do Rio estão nos morros ao largo dos luxuosos apartamentos. As autoridades lutam para fechar um acordo até o prazo de 30 de abril para reduzir tarifas de produtos agrícolas e industriais, uma parte vital da Rodada de Doha, iniciada em 2001.
Eles estão sob pressão para fechar um pacto de redução das barreiras até o fim deste ano, já que após essa data o presidente dos EUA, George W. Bush, vai perder sua autoridade para assinar acordos comerciais sem aprovação do Congresso. Lamy alertou nesta semana que seria um "grande erro" não respeitar o prazo de abril. O ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou na quinta-feira que o encontro no Rio é puramente informal.
- Nada vai ser decidido lá, eu não quero dizer que vai fracassar, não. Mas nós vamos apenas discutir idéias - disse.
Uma autoridade da UE disse que Amorim, Mandelson e o Representante Comercial norte-americano, Rob Portman, se concentrariam em três questões centrais -- o nível das tarifas de importação agrícola da UE, os subsídios agrícolas dos EUA e as tarifas de importação dos países em desenvolvimento do G-20. Os países pobres querem grandes concessões dos ricos em relação às exportações agrícolas. As nações ricas querem maior acesso para produtos manufatureiros e serviços, como os bancários. Os EUA e a UE também têm divergências entre si.
Em um jogo de empurra, todos os lados dizem que suas propostas foram longe o suficiente e agora os outros devem fazer concessões. Uma autoridade dos EUA afirmou na terça-feira que as conversas estavam em "grande dificuldade ", mas Portman se mostrou mais otimista na quinta-feira e disse esperar abrir caminhos no Rio.
Os EUA se desapontaram com a reação à sua oferta de outubro para abrir os mercados agrícolas com um corte de 60 por cento nos subsídios. O chairman do Comitê de Finanças do Senado norte-americano, Charles Grassley, criticou o Brasil na semana passada por cobrar muito e oferecer pouco.