Rio de Janeiro, 22 de Janeiro de 2025

O patamar de 2018 não se alcança sem o degrau de 2016

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Sexta, 09 de Setembro de 2016 às 12:29, por: CdB

Não confundir datas e saber como administrar o tempo. Não se ganhará apoio popular numa eleição em nível municipal propondo-se o Lula 2018

 
Por Maria Fernanda Arruda - do Rio de Janeiro
  Por repetição, usos e costumes, e a imprensa especializada ensina assim, o cenário político brasileiro é entendido como sendo de longa data dominado pelas disputas entre dois partidos, o PT e o PSDB, sempre mirando a Presidência da República. Mas eis que, de repente, não mais que de repente, surge o PMDB e nos impõe um presidente, nascido de um limbo, onde se arquivam os que foram feitos para uma vice-presidência sem brilho e sem graça? Informes e análises precisam sem dúvida de reflexão e correções.
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Maria Fernanda Arruda é colunista do Correio do Brasil, sempre às sextas-feiras O apoio a candidaturas que, pela sua competência e combatividade, não existiram até um passado recente, a de Jandira Feghali, no Rio de Janeiro, como exemplo e símbolo, estão surgindo
O PMDB é o partido político que possui maior número de filiados, bem como de prefeitos e vereadores, além de ter a maior representação no Congresso Nacional. Não só é maior no Senado e na Câmara dos Deputados, como conserva com zelo e carinho a Presidência das duas casas: o Congresso Nacional é afiliado do PMDB e, não por outro motivo, em diferentes momentos o partido imagina um Brasil entregue a ele, implantando-se um parlamentarismo tupiniquim, onde o Poder deixe de ser emanado do povo.  O PMDB elegeu ainda governadores de sete Estados da Federação e ficaria assim muito satisfeito com o retorno à República Velha, à política dos governadores, que trouxesse consigo as miragens do mandonismo dos coronéis, a associação entre enxada e voto, as eleições feitas "a bico de pena". PMDB: nascido do ventre patriota do MDB, sempre foi, é e será o velho e sempre vivo PSD, o partido criado por Vargas, para que pudesse depor Vargas e depois convidá-lo ao suicídio, o antro das "raposas da politica brasileira". Enquanto a UDN produzia oradores com vozes barulhentas, o PSD produziu silêncios conspiratórios, aceitando-se amigo oculto dos golpes de 1945, 1954, 1961 e 1964. De Benedito Valadares, aquele que Vargas escolheu por ser o mais improvável, o que mais adiante criou  duas figuras, Juscelino Kubitschek e Tancredo Neves, até Michel Temer, o PSD produziu conspiradores. Os oito anos de governo de FHC, alimentado no seu narcisismo  por economistas-banqueiros, teve como resultado a delapidação do patrimônio do Estado, permitida por ajustes na Carta de 1988, inaugurando-se, para que isso fosse possível, a feira-livre de compra e venda de apoios e votos Os  precursores da ação corruptora tinham nome e sobrenome: Antônio Carlos Magalhães e Sergio Motta. A volta  de índices de inflação mais expressivos, o aumento em proporções geométricas da dívida pública, o desemprego em níveis assustadores, o desequilíbrio quantificado nos déficits de balança de pagamentos, tudo isso evideciava em termos gritantes o fracasso do neoliberalismo, bandeira oculta do PSDB. Some-se a essa falência a perda das competências de corrupção política de ACM e de Serjão. FHC não era estrategista, sempre foi um falastrão simpático.
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Quando, com a ascensão ao Poder do Partido dos Trabalhadores, com Luis Inácio Lula da Silva, não era mais possível o rompimento com o passado recente. O PT foi-se deixando transformar, moldado pelo que era possível, gradativamente evoluindo do "obreirismo" nascido no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo para o "assistencialismo" inspirado na vontade de dar comida, saúde e educação aos pobres, eliminar a miséria, incluir milhões de brasileiros, dando a eles cidadania e condições dignas de vida. O PT realizou um trabalho ciclópico, com sucesso visto pelo mundo todo. Mas, para que isso fosse possível, transferiu seu domicílio para Brasília. 2016, logo mais, dentro de dias, teremos eleições municipais, O que nos espera? A repetição de fracassos mais recentes? Devemos nos mirar nos exemplos do PMDB no Rio de Janeiro, transformado em sua base de sustentação. Não só no governo do Estado, como também da cidade. O Rio de Janeiro foi feito capitania hereditária, usufruída pelos sucessores de Sérgio Cabral, a que lhes dá deputados federais prestigiados por votações assustadoras e que fazem e sustentam os projetos de rapina: Eduardo Cunha, Jair Bolsonaro, Clarissa Garotinho são nomes que sustentam o domínio  dos canalhas. O senhor Eduardo Cunha manda e comanda o presidente usurpador; Michel Temer o acolhe em seu Jaburu, à sombra de noites sem estrelas. Como e o quanto conseguem isso? Em suma: como o PMDB se legitima através do voto do povo? Não se trata, e nem seria preciso expressar isso em palavras, de copiar um modelo torpe. Mas, ao saber mais sobre ele, ganha-se consciência sobre o que fazer. O que é necessário? Não confundir datas e saber como administrar o tempo. Não se ganhará apoio popular numa eleição em nível municipal propondo-se o Lula 2018. Não estão em discussão os grandes problemas nacionais, mas as necessidades diárias de populações confinadas em cidades carentes em tudo: habitação, transporte, trabalho digno, assistência médica, escola e lazer. No passado, usavam-se figuras de estatura pequena mas conhecedores de bairros, ruas, favelas e cortiços: os "cabos eleitorais" eram (ou são) os que canalizam votos, trocam apoio por botinas modernas. Em regra, não eram tipos confiáveis e eticamente impolutos. Mas, o que será possível, desejável cabível fazer? O apoio a candidaturas que, pela sua competência e combatividade, não existiram até um passado recente, a de Jandira Feghali, no Rio de Janeiro, como exemplo e símbolo, estão surgindo. Como conduzi-la à vitória? Fazendo campanha pelas "diretas já", gritando o slogan Lula Lá em 2018? Não se podem confundir alhos com bugalhos. Na campanha por Jandira o bom-senso elementar recomenda que se discuta a cidade do Rio de Janeiro. O prefeito do Rio de Janeiro chama-se Eduardo Paes. Ele é hoje o retrato do PMDB que domina o Rio de Janeiro e que por sua vez pode ter a sua canalhice mostrada na figura patética de Jorge Picciani. E esse, quem é? Quando ingressou na política, ele já era um produtor rural (mais recentemente, com as pedreiras adquiridas, habilitou-se como fornecedor da brita aplicada nas obras olímpicas). Elegeu-se pela primeira vez em 1990 e reelegeu-se deputado estadual quatro vezes. Presidiu a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro entre 2003 e 2010. Nas quatro vezes em que foi eleito presidente (as votações para a Mesa Diretora ocorrem a cada dois anos), concorreu sozinho à Presidência e teve praticamente a unanimidade dos votos. Na eleição de 2014, candidatou-se novamente para a ALERJ e foi eleito com 76.590 votos (nona maior votação no Estado do Rio e a terceira do PMDB/RJ), em seguida e imediatamente sendo reposto na presidência da Assembléia. Ao mesmo tempo, ele compõe a lista de proprietários suspeitos de utilizar trabalho escravo em suas fazendas. Jandira não poderá administrar a cidade com uma Câmara de Vereadores com tal perfil, ela não poderá ser eleita para viver um mandato de negociações de "governabilidade". O mais possível, no pouquíssimo tempo que resta, é preciso que se enfatize a importância na formação de uma Câmara de Vereadores respeitável e competente, formada por gente que se comprometa na solução dos que são realmente os problemas do povo do Rio, em cada bairro, em cada rua, em cada  comunidade. Maria Fernanda Arruda é escritora, midiativista e colunista do Correio do Brasilsempre às sextas-feiras.
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