Rio de Janeiro, 22 de Dezembro de 2024

O outro lado do milagre

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Segunda, 17 de Abril de 2006 às 20:42, por: CdB

Os grandes temas que os cubanos debatem hoje nas ruas do país não são de política externa ou interna. Não tem a ver com a situação dos EUA no Iraque ou sobre temas de abastecimento interno. Eles vêm de uma minissérie de televisão, com temas audazes para a sociedade cubana, que suscita polêmicas exacerbadas, a favor e contra. Na série chamada O outro lado da lua, cada capítulo aborda um tema controvertido e tem sido reprisada em outros horários, para que todos, nos seus distintos horários de trabalho, possam ver e opinar.

Na primeira história, uma menina, nas vésperas da longa preparação do seu aniversário de 15 anos - toda uma cerimônia tradicional que perdura em Cuba -, revela para a família que teve uma relação sexual que lhe transmitiu aids. Se desmorona o sonho dos pais de consagração virginal da filhinha numa festa de apresentação à sociedade e todos têm que se ver com um fenômeno concreto, que se choca com todas as expectativas da família.

Numa sociedade que conseguiu circunscrever e controlar a difusão da aids, pela efetividade incomparável da sua medicina social - a melhor do mundo -, com os mais baixos índices de morte por essa doença, ainda assim o risco e a presença real da aids encontram grandes dificuldades para serem enfrentados. Tanto na família, quanto nas relações sociais - na escola, entre os amigos -, pelos preconceitos gerados e pelas conseqüências que a doença traz. O choque de ver caras tão familiares enfrentando um problema que todos querem ver longe da sua vida concretizou de forma dramática para os cubanos os problemas da tolerância - já presentes fortemente em "Morango e chocolate".

No entanto, se nesse filme - o mais visto na história do cinema cubano, com espectadores que somam mais da metade da população da Ilha -, se tratava da história de dois amigos soltos, mais ou menos desvinculados das suas famílias e das suas vidas cotidianas. Enquanto que a minissérie provoca mais as reações, porque trata de temas a partir de circunstâncias dramáticas vividas por famílias cubanas.

No segundo episódio, vivido por um casal ideal, de meia-idade, muito amoroso e companheiro, até que a partir de um acidente no trabalho, o marido conhece uma pessoa que o socorre, também de meia-idade, que se revela ser um homossexual, com o qual ele passa a desenvolver uma relação. O tema não caiu com menos tom polêmico que o anterior, com reações desde as que dizem que "se trata de um mau exemplo, que não deveria ser difundido", até os que saúdam a abordagem de temas até aqui quase clandestinos na sociedade cubana.

O certo é que os choques da minissérie - que ainda contará com três capítulos mais - são muito saudáveis, em uma sociedade que conquistou direitos como o direito ao aborto, ao divórcio, que atende a toda sua população com assistência médica e psicológica. Mas que tem que encarar de forma aberta os novos problemas colocados pela liberalização das relações afetivas e sexuais e o faz sem medo das polêmicas e dos conflitos que expõe sem repressão.

Mas há um outro lado que também faz parte do cotidiano dos cubanos com uma presença cada vez maior. Se trata da Operação Milagre. A partir dos extensos serviços de saúde prestados pelo pessoal cubano na Venezuela, constataram a enorme quantidade de pessoas - em geral pobres e muito pobres - que tem problemas de visão, sem se dar conta disso. Ao levar para tratamento em Cuba a pacientes de outras doenças, com um acompanhante, aproveitavam para fazer exames médicos deste e constataram, via de regra, problemas de visão às vezes muito graves.

Estabeleceu-se, a partir daí, vôos semanais de venezuelanos para serem operados da vista, que regressavam uma semana depois com a visão totalmente recuperada. Daí o nome de Operação Milagre. Dezenas de milhares de venezuelanos já se beneficiaram da Operação e recuperaram a visão. Esse procedimento foi estendido aos bolivianos e a outras nacionalidades. Para o que foi necessário que os

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