A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu parâmetros de disponibilidades hídricas per capita para as diversas regiões do planeta, baseando-se nas ofertas volumétricas existentes em tais regiões para o atendimento às suas populações. Assim, considerou como abundante a região que apresentasse condições de disponibilizar, em termos volumétricos, mais de 20 mil m³/habitante/ano. Em uma escala decrescente de valores, estabeleceu como muito rica a região que possibilitasse o fornecimento de mais de 10 mil m³/habitante/ano; como rica, mais de 5 mil m³/habitante/ano; como situação limite, mais de 2,5 mil m³/habitante/ano; como pobre, menos de 2,5 mil m³/habitante/ano e, por último, como situação crítica a região capaz de fornecer menos de 1,5 mil m³/habitante/ano.
O Brasil, segundo a OMS, é um país privilegiado em termos de recursos hídricos, pois possui cerca de 12% de toda a água doce que escorre na superfície do mundo. Porém, a distribuição dessa água no território nacional deixa muito a desejar: 72% desses 12% localizam-se na região norte do país (o potencial médio de água doce nos rios na região norte é de cerca de 3.845,5 km³/ano), onde vivem cerca de apenas 7% de sua população. Muita água numa região com poucos habitantes. Enquanto isso, o Nordeste brasileiro (28% da população do país) possui míseros 3%, 2/3 dos quais localizados na bacia do rio São Francisco - o potencial médio de água doce nos rios nordestinos é de 186,2 km³/ano. Para se ter idéia dessa problemática de distribuição, todos os Estados do Norte do país são considerados abundantes em termos de disponibilidade hídrica, capazes de ofertar, a cada um de seus habitantes, um volume superior a 20 mil m³ por ano. Roraima é o Estado hidrologicamente mais rico do país, com condições de ofertar a incrível marca de 1,7 milhão de m³/habitante/ano.
Já os Estados nordestinos estão distribuídos nas mais variadas classes de oferta hídrica, uma vez que possuem condições ambientais as mais diversas, seja em termos climáticos, seja em termos geológicos. O Estado do Maranhão, por exemplo, de clima pré-amazônico, e, portanto, localizado fora do polígono das secas, além de possuir uma bacia sedimentária riquíssima em água de subsolo - com cerca de 17,5 mil km³/ano - está numa classe considerada muito rica, pois tem condições de ofertar cerca de 17,2 mil m³ para cada um de seus habitantes por ano. Por sua vez, o Estado do Piauí, por apresentar boa parte de seu território com geologia sedimentária (junto com o Estado do Maranhão, o Piauí detém cerca de 70% das águas de subsolo de todo o Nordeste, portanto com enorme riqueza de água subterrânea) e por possuir o segundo maior rio nordestino em importância (o Parnaíba), está numa classe considerada rica, pois oferta cerca de 9,6 mil m³/habitante/ano.
O Estado da Bahia está numa situação limite, chegando a ofertar cerca de 3 mil m³/habitante/ano. Além de possuir áreas sedimentárias importantes, distribuídas de forma esparsa no Estado, tem o rio São Francisco como seu maior aliado, cortando o território baiano de sul a norte.
A situação dos demais Estados nordestinos preocupa, pois os mesmos encontram-se localizados entre as classes pobre - a exemplo do Ceará, Rio Grande do Norte, Alagoas e Sergipe, os quais fornecem cerca de 2.440, 1.780, 1.750 e 1.740 m³/habitante/ano, respectivamente - e em situação crítica, a exemplo da Paraíba e Pernambuco, Estados campeões nacionais em termos de pobreza na oferta hídrica, por disponibilizarem, cerca de 1.440 e 1.320 m³ a cada um de seus habitantes por ano, respectivamente. Levando-se em consideração essas duas últimas classes distributivas de recursos hídricos (pobre e em situação crítica), chega-se à conclusão de que, mesmo com os riscos iminentes de desabastecimento, os Estados nordestinos localizados nas referidas classes poderão vir a suprir a demanda de água de suas populações, de forma coerente e satisfatória. Para tanto, é necessário proceder ao gerenciament