A ofensiva israelense contra a Autoridade Nacional Palestina (ANP) seria impensável no início da guerra no Afeganistão. Os Estados Unidos acreditavam que a ação debilitaria sua coalizão com os países muçulmanos contra Cabul. Uma vez que os talebans foram derrotados, Bush permitiu que Sharon lance sua própria guerra anti-terrorista em sua casa. Enquanto isso, os falcões norte-americanos estão falando em preparar ataques contra Iraque ou Líbia. Arafat se encontra em uma encruzilhada. Uma de suas bases em Gaza e três de seus helicópteros foram bombardeados por Israel. Sharon declarou que Arafat e a ANP encobrem o terrorismo e chegou a compará-lo a Bin Laden. Um amplo setor do governo israelense aproveita a crise interna e internacional para arremeter contra a ANP e voltar a uma situação prévia aos acordos de Oslo, onde o máximo que estariam dispostos a conceder seria uma série de bolsões árabes isolados sem maiores poderes e dominados pelo exército israelense. Shimon Perez e os trabalhistas, que representam a minoria do governo de unidade, se encontram entre a espada e a parede. Se renunciam ao gabinete, acreditam que debilitarão o Estado em um momento que necessitam reforçá-lo frente a ofensiva islâmica. Se ficam, pensam que deverão conceder muito aos falcões e deteriorar sua base social. Por outro lado, as pesquisas mostram um crescimento do partido Likud de Sharon em detrimento do trabalhismo. Arafat declarou estado de emergência em suas áreas proibindo toda manifestação e prendendo mais de 110 mulçumanos palestinos, mas isso não satisfaz a Sharon. Israel queria que ele se transforme em seu principal guardião nos territórios ocupados, mas se Arafat lançar uma caçada anti-Hamas pode perder a corda e a cabra: afastando-se de uma população árabe cada vez mais radicalizada e ficando sem maiores atrativos para controlá-la. Se decide responder militarmente a ofensiva de Sharon, deveria aliar-se com o Hamas, o que podia evaporar seu projeto de paz com base em dois Estados e se distanciar dos Estados Unidos * Isaac Bigio é professor na London School of Economics & Political Sciences, Londres, Inglaterraa