Termo novo, cunhado a partir de estudos e debates travados desde a década de 70, "desertificação" significa "degradação do solo em áreas áridas, semi-áridas e subúmidas secas, resultante de vários fatores, entre eles mudanças climáticas e atividade humana". Essa definição - hoje em dia aceita e aplicada por ONGs, programas governamentais e acadêmicos que lidam com o tema - foi sacramentada na Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação, de 1994. E é seguindo tal definição que os processos de desertificação devem ser encarados e combatidos. É importante fazer esta distinção, pois o termo deve ser aplicado somente aos processos que ocorrem nas áreas "áridas, semi-áridas e subúmidas secas" - o que, no Brasil, significa dizer que ele só pode ocorrer no norte e no nordeste. Isso deixa de fora, portanto, as áreas ao sul do país que também estão sofrendo forte processo de degradação, com causas semelhantes.
O assunto, no Brasil, é tão árido quanto as áreas afetadas. Primeiro porque só foi encarado como um problema recentemente, a partir do início da década de 90 - antes se acreditava que desertificação era um problema majoritariamente do continente africano. No entanto, até países pequenos e de clima tropical ou temperado, como a Argentina, sofrem com o fenômeno. No país, por ocorrer mais no nordeste, a desertificação é muitas vezes confundida com seca. Esta, porém, é um fenômeno climático independente do Homem. Também não tem a ver com a expansão de desertos já existentes.
Desertificação tem a ver com degradação de solos antes saudáveis e decorre da conjunção de mudanças climáticas e, principalmente, ação humana. Para comprovar isso, basta notar que o processo tem se acentuado desde a década de 70, quando o uso do solo se intensificou, sobretudo com grandes aplicações de capital, vindas em grande parte de financiamentos de órgãos governamentais, como a antiga Sudene - Superintendência de Desenvolvimento Econômico do Nordeste. Esses grandes aportes de capital provocaram também uma agricultura largamente irrigada, porém sem o adequado manejo.
A irrigação não-apropriada, por sinal, é uma das principais causas de desertificação, por causar salinização do solo: a água é trazida de fora, muitas vezes, em grandes quantidades, dissolvendo os sais presentes no solo e fazendo com que eles venham para a superfície; devido ao clima seco, a água facilmente evapora e resta somente o sal. "Não é nem um processo de irrigação, é de 'molhação'. É muita quantidade de água, não há um controle, uma gestão correta", afirma Dário Nunes dos Santos, responsável pela área de Clima e Água no IRPAA - Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada.
Outro fator de desertificação provocado pelo Homem é a monocultura. O uso da terra exaustivamente para cultivar um único tipo de alimento sabidamente estraga o solo, que perde nutrientes e fertilidade. Isto e o grande desmatamento de vegetação nativa - para promover pastos e plantações - estão entre os principais responsáveis pela taxa de decréscimo médio anual de 1,8% na produtividade agrícola das regiões afetadas no país. Estas, por sua vez, somam mais de 665 mil km, atingindo 42% da população nordestina e mais de 10% da população brasileira, segundo dados da Fundação Esquel. Ou seja, são mais de 15 milhões de pessoas vivendo em áreas cuja situação é considerada moderada, grave ou muito grave. No mundo, as regiões semi-áridas - portanto, suscetíveis ao processo - representam quase um terço da superfície do planeta e abrigam mais de 1 bilhão de pessoas. Atualmente, calcula-se que 100 países já apresentem terras em processo de desertificação.
Voltando ao Brasil, quatro localidades são consideradas Núcleos de Desertificação: Gilboés (Piauí), Irauçuba (Ceará), Seridó (entre Rio Grande do Norte e Paraíba) e Cabrobó (Pernambuco). Apesar de o semi-árido brasileiro ser o mais chuvoso do mundo - com índices pluviométricos anuais de 800 mm, em média