Rio de Janeiro, 21 de Janeiro de 2025

Nada de golpes

Arquivado em:
Domingo, 14 de Dezembro de 2014 às 13:00, por: CdB
DIRETO-WERNECK1.jpg
Embora decepcionado, colunista alerta contra toda intenção de golpe por parte de saudosistas da ditadura
Entendamo-nos: não votei em Dilma nem em Aécio. Acho que o PT desgastou-se no poder e o governo Dilma foi ruim. Se o PSDB tivesse aparecido com um candidato melhor do que Aécio, teria me abalado a sair de casa. A corrupção deve ser investigada e punida. Os corruptos e corruptores devem ir para a cadeia. Ainda agora um alto funcionário do governo chinês foi condenado à prisão perpétua, por corrupção. Mas não gosto dos indícios de que, como dizia o Barão de Itararé, há no ar algo além dos aviões de carreira. Há quem sonhe com o golpe. Meu e-mail é inundado todos os dias com artigos, colunas e “posts” de quem acha que as coisas foram melhores durante o tempo da ditadura militar. São pessoas de memória fraca ou não viveram aquela época. A ditadura militar nada mais foi do que um movimento de elite durante o qual, é claro, se beneficiaram as classes econômicas dominantes - e os próprios militares, que passaram a ocupar quase todas as posições de alguma importância no país. Dizia-se, na ocasião, que “primeiro precisamos fazer o bolo crescer, para depois dividi-lo”. Nada mais equivocado. Ainda esta semana a OECD, a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico, publicou mais um estudo - vejam bem, mais um - mostrando que a única maneira de se conseguir crescimento econômico em um país é pela diminuição do desnível entre pobres e ricos. Em linguagem futebolística, é preciso que toda a população, e não apenas uma parte dela, tome parte no jogo. Por isto, acho que o PT, apesar de todos os seus abusos, foi importante no processo brasileiro. Programas sociais que coloquem dinheiro no bolso de quem precisa gastá-lo são importantes. Por que? Porque, gastando-o, os que dele necessitam impulsionam a economia e a fazem crescer. Para isto é importante também que esta nova administração, embora atenta a uma necessidade de contas equilibradas, não caia na esparrela da “austeridade” que tem contribuído para enfraquecer a economia de países europeus. Há gastos excessivos e desnecessários - e a corrupção é um deles. Mas, não esqueçamos, o Brasil precisa investir em sua infra-estrutura. Entre as infra-estruturas, uma se destaca sobre todas as outras: a educação. Infelizmente, esta é uma infra-estrutura em geral relegada a um segundo plano, pois seus resultados só aparecem em dez ou quinze anos. O Brasil tem um logo caminho a percorrer, para se tornar um país realmente desenvolvido. Mas o primeiro passo tem que ser o de dar as costas a qualquer tentativa de golpe, para não voltarmos aos anos negros. Como dizia Winston Churchill, a democracia é a pior forma de governo, com exceção de todas as outras. José Inácio Werneckjornalista e escritor, trabalhou no Jornal do Brasil e na BBC, em Londres. Colaborou com jornais brasileiros e estrangeiros. Cobriu Jogos Olímpicos e Copas do Mundo no exterior. Foi locutor, comentarista, colunista e supervisor da ESPN Internacional e ESPN do Brasil. Colabora com a Gazeta Esportiva. Escreveu Com Esperança no Coração sobre emigrantes brasileiros nos EUA e Sabor de Mar. É intérprete judicial em Bristol, no Connecticut, EUA, onde vive. Direto da Redação é um fórum de debates, editado pelo jornalista Rui Martins.
Tags:
Edições digital e impressa
 
 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo