Mutações do vírus da síndrome respiratória aguda grave (Sars) e recaídas entre pacientes estão confundindo os cientistas que tentam entender a doença, que registrou um aumento de cinco vezes no número de mortes no mês passado. Médicos da Universidade Chinesa de Hong Kong disseram que há duas formas de Sars no território chinês, o que poderia complicar os esforços para desenvolver testes de diagnóstico e uma vacina. - Essa rápida evolução é como a de um assassino que está tentando mudar suas impressões digitais ou mesmo sua aparência para escapar da polícia -, disse o dr. Dennis Lo, da Universidade Chinesa de Hong Kong. De acordo com Lo, "mais pesquisas são necessárias para determinar se o vírus tornou-se mais infeccioso ou mortal". Neste sábado, as autoridades de saúde registraram 10 novos casos de Sars em Hong Kong, elevando para 1.621 o número total de infecções na ex-colônia britânica. Um total de 179 pessoas morreram por causa da doença e cerca de 900 foram internadas e já receberam alta em Hong Kong. Porém, algo que também preocupa os cientistas é que pelo menos 12 pacientes que receberam alta tiveram que voltar ao hospital. Representantes da Organização Mundial de Saúde (OMS) estarão em Hong Kong na próxima segunda-feira para avaliar a situação com as autoridades locais. Reação demorada O secretário de Saúde de Hong Kong, dr. Yeoh Eng-kiong, admitiu, neste sábado, que o território demorou para conter a epidemia de Sars. Eng-kiong afirmou, em entrevista a uma rádio local, que "a reação não foi suficientemente rápida porque muito pouco se sabia sobre a Sars". As autoridades de Hong Kong foram criticadas por demorar para colocar em quarentena as pessoas que poderiam estar infectadas com o vírus. Nesta semana, a OMS havia declarado que a epidemia em Hong Kong estava sobre controle. Mas, o aumento do número de casos e de mortes registrados nos últimos dias demonstram exatamente o contrário. Na China continental, o número de casos também continua subindo e, neste sábado, outras 181 pessoas foram confirmadas com a doença e nove morreram. A maioria de casos e mortes foi registrada na capital Pequim. Até agora, cerca de 1.600 pessoas foram infectadas e 96 morreram. O diretor do Departamento de Saúde de Pequim, Liang Wannian, disse, na última sexta-feira (2), que acreditava que a epidemia de Sars estaria controlada. As autoridades de Pequim esperam que o isolamento dos pacientes possa ajudar a conter a propagação do vírus e um novo hospital, com 1.000 leitos, foi inaugurado para receber os pacientes. Mais de 7.000 operários trabalharam dia e noite para levantar a estrutura do hospital Xiaotangshan em apenas oito dias. O governo central da China também decidiu voltar atrás na decisão de proibir técnicos da OMS de viajar a Taiwan para avaliar a epidemia de Sars no local. A China, que considera Taiwan uma província desertora, bloqueou os esforços do governo da ilha que planejava entrar para a Organização das Nações Unidas como um país independente. Taiwan, por sua vez, afirmou que a inexistência de um relação direta com a ONU está por trás da demora da OMS para ajudar a conter a Sars. As autoridades de Taiwan confirmaram quase 100 casos de Sars até a última sexta-feira (2). Em todo o mundo, mais de 400 pessoas morreram e mais de 6.000 foram infectadas com o vírus da Sars. Já em Cingapura, as autoridades prenderam um homem que violou a quarentena que deveria cumprir em sua própria casa. O homem, que foi encontrado bebendo em um bar em duas ocasiões, está preso em isolamento desde a última sexta-feira (2). Cingapura, que impôs medidas de estritas para controlar a epidemia, já registrou 203 casos e 25 mortes. A OMS, por sua vez, informou que os testes de laboratório para detectar a Sars utilizados na Índia não são precisos. Até agora, a Índia registrou 19 casos da doença e mantém 200 pessoas em quarentena.
Mutações do vírus da Sars complicam esforços para desenvolver vacina
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Sábado, 03 de Maio de 2003 às 11:55, por: CdB