Rio de Janeiro, 22 de Dezembro de 2024

Muçulmanos duvidam do recuo da Neewsweek

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Segunda, 16 de Maio de 2005 às 07:37, por: CdB

Muçulmanos do Afeganistão e do Paquistão manifestaram ceticismo nesta segunda-feira com o aparente recuo da revista Newsweek em uma reportagem que relata a profanação do Alcorão por interrogadores norte-americanos. Eles consideram que o desmentido se deve à pressão do governo dos EUA.

A reportagem, na edição de 9 de maio da revista, provocou protestos em todo o mundo islâmico. No Afeganistão, 16 pessoas morreram e mais de 100 ficaram feridas.

A Newsweek disse neste domingo que a reportagem pode não ser verdadeira.

- Não seremos enganados por isso.Esta é uma decisão da América para se salvar. Ela vem por causa da pressão norte-americana. Qualquer camponês analfabeto entende isso e não vai aceitar -afirmou o mulá Sadullah Abu Aman  Badakhsan, no norte do Afeganistão.

Aman é o líder do grupo de clérigos que, no domingo, deu prazo de três dias para convocar uma guerra santa caso os EUA não entreguem os interrogadores militares que, de acordo com a revista, teriam jogado exemplares do Alcorão em vasos sanitários e, em pelo menos um caso, acionado a descarga.

O mulá disse que a ameaça de guerra santa persiste, apesar do desmentido da Newsweek.
Os muçulmanos consideram o Alcorão como a palavra literal de Deus e tratam cada exemplar com extrema reverência. O incidente teria acontecido na base naval de Guantánamo, encravada em Cuba.

A Newsweek disse neste domingo que a informação partira de "uma fonte confiável do governo", que depois teria dito não estar segura das informações.

- Não é aceitável que agora a revista diga que cometeu um erro - disse Hafizullah Torab, 42, escritor e jornalista de Jalalabad (leste do Afeganistão), onde na terça-feira passada começaram os protestos contra os EUA, o maior desde que os norte-americanos invadiram o país e derrubaram o regime Taliban, no final de 2001.

- Possivelmente, o governo norte-americano pressionou a revista a publicar esta retratação para evitar a ira dos muçulmanos - disse Sayed Elyas Sedaqat, diretor de uma entidade cultural da cidade.

No vizinho Paquistão, um partido religioso manteve a convocação de manifestações no dia 27.

- A Newsweek está recuando, mas (o alvo do protesto) não é só a sua reportagem. Todos os inocentes libertados da custódia dos EUA declaram que houve profanação do Alcorão -disse Ghaffar Aziz, dirigente do partido Jamaat-e-Islami. "

Um porta-voz do Taeibã, que negou envolvimento nos protestos da semana passada no Afeganistão, disse que a reportagem original estava correta.

- A Newsweek está mudando sua história por causa da pressão do governo dos EUA  disse Abdul Latif Hakimi por telefone.

Em Cabul, um porta-voz militar dos EUA afirmou que a retratação da Newsweek não muda a postura do país.

- Qualquer desrespeito com o Alcorão ou com outra religião não é tolerado por nossa cultura e por nossos valores - disse o coronel Jim Yonts.

O estudante Abdul Khaliq, da Universidade de Cabul, cobrou punições à própria revista.

- Se isso foi um erro da Newsweek, ela deveria ser proibida - disse ele.

No final de semana, o presidente Hamid Karzai pediu a Washington que puna eventuais responsáveis pela profanação. O governo afegão não comentou o desmentido da Newsweek.

No Paquistão, onde em novembro a revista foi proibida de circular por trazer uma foto de uma mulher coberta por inscrições do Alcorão, o governo manifestou na semana passada profunda preocupação com a situação de Guantánamo e cobrou sanções aos autores da profanação.

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