Rio de Janeiro, 22 de Janeiro de 2025

MST vai às ruas para lembrar Eldorado de Carajás

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Quinta, 15 de Abril de 2004 às 07:32, por: CdB

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) prepara para a semana de 17 de abril um conjunto de manifestações populares. A data é uma lembrança do massacre de Eldorado de Carajás, ocorrido em 1996, quando 19 trabalhadores rurais foram mortos por policiais militares no Estado do Pará. Outros 67 foram feridos e têm seqüelas até hoje.

O episódio teve repercussão internacional, pelo grau de crueldade. Em função dele, a Via Campesina Internacional transformou o dia 17 de abril no dia Internacional de Luta Camponesa, a exemplo do que já havia para comemoração dos dias das mulheres e dos operários. Aqui no Brasil, por iniciativa da senadora Marina Silva, foi sancionada uma lei pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, que declara dia 17 de abril o Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária.

Mais além desse contexto histórico, o objetivo da mobilização deste ano é também garantir o assentamento de 400 mil famílias até 2006, número resultante de uma negociação entre o governo federal e o MST. O anúncio da suplementação orçamentária de R$ 1,7 bilhão para fins de reforma agrária foi um aceno do governo. Mas o MST quer ver o resultado na prática. Nos Estados, diversas organizações participarão das manifestações. Integram essa frente o MST, a Via Campesina e todos os movimentos sociais, da cidade e do campo. Nas ruas, estarão as bandeiras vermelhas dos sem-terra, da CUT, da central de movimentos populares, dos pequenos agricultores.

O MST aproveitará a oportunidade para defender a idéia de que a sociedade precisa discutir um novo projeto de desenvolvimento para o país. O modelo atual é base da crise atual da economia. Nesse novo projeto, evidentemente que a reforma agrária tem um papel fundamental, para eliminar a pobreza e a desigualdade social existentes no Brasil.

- Somente a reforma agrária poderá ajudar a resolver o problema do desemprego que toma conta do país - diz João Pedro Stédile.

Os números mostram que o latifúndio não cumpre essa função. Para se ter uma idéia, o latifúndio gera apenas 600 mil empregos no país. Por outro lado, a agricultura familiar da pequena propriedade é responsável pelo emprego de 13 milhões pessoas no campo.

- O assentamento de 400 mil famílias significará, em médio prazo, a geração de 3 milhões de empregos no campo - calcula o economista.

Para Stédile, os brasileiros também não podem apagar da sua memória o massacre de Eldorado de Carajás, retrato da violência gerada pelo latifúndio. O Movimento defende a promulgação imediata da lei da reforma do judiciário, já aprovada no Senado e que prevê a federalização do julgamento de todos os crimes contra os direitos humanos.

Com isso, o julgamento ainda impune do caso Carajás sairia da esfera local e seria transferido para a Justiça federal, onde poderia finalmente se fazer a justiça.

Nos tribunais do Pará já houve julgamento e todos foram inocentados, menos o coronel Mário Pantoja, que comandou a operação.  Mas, embora condenado a 228 anos de prisão, seus advogados recorreram, o julgamento foi suspenso e hoje Pantoja anda livre pelas ruas. Ou seja, depois de oito anos, os responsáveis pelo Massacre de Carajás continuam todos impunes e em liberdade.

A melhor lembrança em memória aos mortos da luta pela terra será sair às ruas no dia 17 de abril, por isso estamos nos mobilizando na Jornada de Lutas. É a única alternativa que resta aos trabalhadores rurais: organizarem-se para lutar e conquistar os seus direitos elementares de cidadãos brasileiros, previstos na Constituição Federal.

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