Para quem nunca teve a oportunidade de vê-los de perto, a cena pode impressionar. Acampados em uma verdadeira imensidão de barracas de plástico preto nas dependências do Museu de Ciência e Tecnologia, quase quatro mil integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) aguardam, entre crianças, colchonetes e improvisos, até que seus líderes concluam algumas rodadas de negociações com os governos estadual e federal.
Pelo menos três compromissos importantes estão na agenda do grupo acampado em Salvador: uma audiência com Marcelo Resende, presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra); uma reunião com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), confirmada para o dia 11, e mais outra reunião, com a Companhia de Desenvolvimento Agrário (CDA), que pode ocorrer nesta quarta-feira mesmo.
Existe ainda a possibilidade de um encontro com Miguel Rossetto, ministro do Desenvolvimento Agrário, ainda não foi confirmado.
Na reunião com o presidente do Incra, serão discutidos temas gerais; com a Conab, se acertará a compra da produção de grãos dos assentamentos pelo órgão; e finalmente, com a CDA, se tentará resolver 'a pendência de obras que já tiveram liberadas a primeira parcela do financiamento, mas falta liberar a segunda.
Entre as obras paralisadas estão equipamentos como poços artesianos, ligações de energia elétrica, barragens e pontes, entre outras', segundo Oranildo Costa, diretor baiano do MST.
Oronildo espera que todas essas reuniões sejam realizadas até o fim desta semana ou início da próxima, 'para podermos retornar aos assentamentos. Senão, permaneceremos em Salvador mais um pouco', previu.
Na última segunda-feira, além da reunião na Secretaria de Educação que garantiu a implantação de uma escola no assentamento Terra à Vista, em Arataca, o grupo também se reuniu com o Incra baiano a fim de cobrar a vistoria de terras que já haviam sido indicadas pelo movimento para desapropriação 'há mais de três anos', reiterou Oronildo Costa, da direção estadual do MST.
- Acertamos que eles farão as vistorias até o fim do ano, nas oito regionais do estado, sendo dez vistorias para cada região. Temos mais de 20 mil famílias acampadas nas cercanias dessas terras, só aguardando o sinal verde do Incra. Nossa previsão é que, até o fim do ano, esses 20 mil já sejam 30 mil - previu Oronildo.
O MST organizou na Bahia seus integrantes em oito regionais. Cada regional tem um coletivo que é composto por vários setores, como saúde, educação, produção, frente de massa etc. Cada setor conta com um responsável pela sua área.
Ao entrar no pátio do Museu de Ciência e Tecnologia, o visitante incauto pode até se impressionar com a visão inicial das dezenas de barracas de plástico preto montadas na sua entrada. Só que ele ainda não viu foi nada.
Logo após o pátio, vem o pavilhão de exibição do Museu, completamente tomado por centenas de colchonetes, vários deles com pessoas dormindo, momentaneamente alheias ao burburinho em volta.
Quando o visitante pensa que acabou, a surpresa: após o pavilhão abarrotado de gente, tem mais uma imensidão de barracas de plástico preto, igualmente abarrotadas.
Em grandes aglomerações humanas como esta, os odores mais característicos se sobrepõem, misturados: fumo de rolo, suor e a comida do almoço, além da madeira queimada em fogueiras acesas pelo pátio na noite anterior.
Na entrada do pavilhão de exibições, três unidades do SAC Saúde, enviadas pelo governo estadual para prestar assistência médica aos sem-terra, estão de prontidão, com profissionais em odontologia, clínica geral, ginecologia e oftalmologia.
Elielma Gomes, auxiliar de odontologia, conta que o SAC Saúde 'já trabalha há mais de um ano nos assentamentos dos sem-terra. Semana sim, semana não, uma equipe viaja para atender em um assentamento, ficando 15 dias no local'.
A jovem au
MST e governo da Bahia estão em negociações
Arquivado em:
Terça, 09 de Setembro de 2003 às 23:22, por: CdB