Desde há muito, a questão das opções morais aturdiu aos homens e as mulheres. Escolher entre o certo e o errado, adotar uma postura ética e agir de acordo com o que se considera justo são problemas que perseguem a história humana há milênios. A moral consiste em um conjunto de regras positivas e negativas, que ficam entre a graça e o castigo. A ética, muitas vezes pensada ou confundida como uma moral positiva, é, na verdade, o código prático de normas a serem seguidas ou transgredidas, dependendo do mirante dos praticantes ou dos seus observadores.
Nas formações sociais mais antigas, resolveu-se o problema atribuindo-se a construção dos padrões morais aos deuses ou a um só deus. As opções morais seriam ditadas do céu para a terra, cabendo a humanidade escolher dentro de um roteiro de possibilidades. Jamais se disse que não haveria escolhas. O fardo de tê-las seria aumentado ou diminuído de acordo com o afastamento ou a aproximação do que estaria além do mundo físico. Diferentes crenças tornavam e ainda tornam o ato de optar condicionado ao modo de como se representam o sobrenatural e o mundo da vida.
Na modernidade, com advento do capitalismo, da urbanização e do aumento da complexidade da sociedade e do estado, a moral foi laicizada, sem perder os seus fundamentos metafísicos. Para grandes contingentes humanos, as opções morais são pragmáticas e retiradas da vivência social. As mediações religiosas passaram para um plano secundário e deixaram de ser o fundamento da postura ética individual e coletiva.
Contribuem para o ordenamento dos padrões morais, o modo como as sociedades se organizam e como o poder político é exercido. A grande maioria das pessoas continua, infelizmente, acreditando que a moral é de 'berço', uma questão de caráter pessoal ou algo natural que não se ensina ou se aprende, apenas se desfruta consensualmente. A manutenção destas crenças ajuda obscurecer as raízes históricas das crenças morais.
Nos fundamentalismos religiosos de nosso tempo (puritanismo protestante, integrismo católico, islamismo radical, sionismo talmúdico, pentecostalismos etc.) parece que a postura moral relacionar-se-ia ao credo professado. Este justificaria a adoção de posturas ético-morais não consensuais ao tecido social, mas absolutamente de acordo com o modo de ver dominante do grupo religioso ou sociopolítico envolvido.
De modo geral, estas morais, diferentemente da antiguidade e da idade média, de onde vieram, não são de fato teológicas. Não são problemas doutrinários (ou o são como farsa e representação) e pouco tem a ver com os 'livros sagrados' que tanto invocam. São compreensíveis se forem rompidos os preconceitos e se busque entendê-las no contexto econômico, sociopolítico e cultural onde nascem e se desenvolvem. As referências que os fundamentalistas fazem às religiões e ao passado pouco se relacionam com os mesmos. Estão muito mais presas aos problemas do presente.
A história dos movimentos fundamentalistas, intolerantes e implacáveis, não consiste em verdadeiros conflitos de civilizações, por mais que renomados intelectuais queiram assim fazer crer. Ao contrário, eles cresceram à sombra da interpenetração econômica, política e cultural entre o oriente e o ocidente, levada ao paroxismo pela globalização. Seus valores, signos e modus operandi - dinheiro, armas, poder, xenofobia, chauvinismo, racismos, ação direta ('terrorismo' de pequenos grupos e o praticado pelas potências de nosso tempo) etc - eram anteriores e foram relidos, transformados e adaptados no mundo presente e com objetivos políticos distintos.
Bin Laden tem mais a ver com os senhores da guerra asiáticos e africanos e a forte presença imperialista nestas regiões, do que com a resistência palestina ou a luta anticolonial africana, da década de 1970. Não é verdade que as intifadas tenham preparado os atentados espetaculares dos fundamentalistas islâmicos de hoje. A guerrilha urbana latino-americana do mesmo pe