Rio de Janeiro, 30 de Dezembro de 2024

Moradores expulsos de prédio da Telerj vivem improvisados em igreja no Rio

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Sexta, 06 de Junho de 2014 às 09:30, por: CdB
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Em abril, policiais removeram com truculência as famílias de prédio no bairro do Engenho Novo
Cerca de 300 pessoas que em março deste ano haviam ocupado o terreno que ficou conhecido como Favela da Telerj, no Rio de Janeiro, ainda estão abrigadas de forma precária no ginásio de uma igreja a cerca de um quilômetro do Aeroporto Internacional Tom Jobim, por onde a maioria dos turistas que vem para o Mundial deve chegar à cidade. Integrantes do grupo, que alegam terem sido vítimas do aumento do valor dos aluguéis na cidade no período de preparação para a Copa, participaram de um protesto que bloqueou o acesso ao aeroporto no dia em que a seleção brasileira se apresentou no Rio, na semana passada. Eles são remanescentes das mais de 5 mil pessoas que invadiram, ainda em março, um prédio no bairro do Engenho Novo, na Zona Norte do Rio, que pertence à antiga empresa de telecomunicações do Estado do Rio de Janeiro (Telerj). O caso ganhou repercussão internacional semanas depois, no dia 11 de abril, quando cerca de 80 militares e 1.650 policiais removeram com truculência as famílias de dentro do local. Muitos tiveram que sair sem documentos, houve feridos e as imagens dos confrontos rodaram o mundo. Resistência Em depoimento à agência britânica de notícias BBC, Carlos Alessandro de Souza diz que vivia na comunidade Jacarezinho, e que teve que deixar a casa onde vivia com a mulher e os cinco filhos, porque a dona do imóvel decidiu alugar para outra pessoa a um preço mais elevado. - Devido ao aumento de aluguel com as ocupações de UPP nas comunidades, eu não tive outra opção. O filho mais novo, Carlinhos, tinha apenas um mês quando a família ficou sabendo da ocupação da Telerj e decidiu juntar-se ao grupo. - Fui para lá, assim como milhares de outras pessoas na mesma situação. Quando a gente tinha conseguido se instalar, com um gato para a energia elétrica, veio a polícia e nos tirou de lá com muita paulada. Meus companheiros fizeram uma rodinha em torno de mim para que eu saísse com o bebê no colo, embaixo de bombas de gás e spray de pimenta - relembra. Desde então muitos foram buscar abrigo em casas de parentes ou ficaram sem moradia, mas o grupo que está na igreja vem resistindo. Eles já estiveram acampados diante da Prefeitura, e em frente à Catedral Metropolitana do Rio, de onde receberam a oferta da Arquidiocese do Rio de Janeiro para que fossem ao ginásio da paróquia na Ilha do Governador. O grupo reivindica que o governo municipal providencie uma casa para cada família, mas a Prefeitura diz que a situação não é tão simples e que há outras famílias que já aguardam moradia. Consultado pela BBC, o governo municipal confirmou as declarações recentes do prefeito Eduardo Paes sobre a compra do prédio da antiga Telerj. - A Prefeitura do Rio está adquirindo a área onde funcionava um almoxarifado da empresa Oi, no Engenho Novo, onde construirá o Bairro Carioca 2, por meio do Programa Minha Casa, Minha Vida, em parceria com o Governo Federal, que terá 1.300 apartamentos - disse a Secretaria Municipal de Habitação. Tudo indica, no entanto, que os apartamentos devem ser destinados aos que já aguardam na fila do programa federal, e não aos desalojados que aguardam na igreja Nossa Senhora do Loreto. Há uma fila de espera e sorteio para o programa federal Minha Casa Minha Vida, na qual os integrantes do grupo já teriam sido cadastrados. Além disso teriam sido ofertadas vagas em abrigos da Prefeitura, rejeitadas pelas famílias. Segundo a Prefeitura, não há possibilidade de solução imediata. Remoções e déficit habitacional A situação com os ex-ocupantes do prédio da Telerj é símbolo do que, segundos os desalojados, tem sido o reflexo do Mundial para os mais pobres. Eles argumentam que além de elevar os preços dos aluguéis devido à especulação imobiliária, os preparativos para a Copa retiraram milhares de suas casas, com as remoções e reassentamentos para obras relacionadas ao torneio – tanto negociadas quanto forçadas. O grupo de 300 pessoas que vive atualmente na paróquia Nossa Senhora do Loreto, na Ilha do Governador, é apenas uma pequena amostra de um universo muito maior. Consultada pela BBC, a Prefeitura do Rio diz que entre janeiro de 2009 e 17 de maio de 2014,  já houve o reassentamento de 21.259 famílias. O número é interpretado de formas diferentes. Para a Secretaria Municipal de Habitação, 19.319 famílias tiveram que abandonar suas casas por viverem em situações classificadas como alto risco e apenas 1.940 famílias foram reassentadas em função de obras. O governo municipal diz que desse total, 10.280 famílias (52%) receberam imóveis do programa federal Minha Casa, Minha Vida, 30% receberam indenização e 18% estão recebendo aluguel social – um auxílio no valor de R$ 400 ou R$ 500 que pode ser concedido por um período máximo de 12 meses. Um estudo recente divulgado pela Fundação João Pinheiro revelou que o deficit habitacional cresceu 10% entre 2011 e 2012 nas nove metrópoles monitoradas pelo IBGE, perfazendo um total de 1,8 milhão de famílias sem residência adequada nessas regiões. No Rio de Janeiro, o instituto calculou que em 2011 havia 299.649 famílias sem moradia adequada, e em 2012 havia 331.260, uma elevação de 10,5%. De acordo com o Instituto Pereiro Passos, atualmente há um déficit de 148 mil casas na capital Fluminense.
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