O aumento no número de acampados, a falta de novos assentamentos e a paralisia das políticas de reforma agrária compõem o eixo central da pauta da Jornada Nacional de Lutas pela reforma agrária
Por Redação, com Sul21 - de Porto Alegre
A crise econômica e o crescimento do desemprego trouxe de volta uma cena que havia diminuído sensivelmente nos últimos anos. A vista se repete no Rio Grande do Sul e em quase todo o país: os acampamentos de sem terra na beira das estradas. Segundo estimativas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), há mais de 120 mil famílias acampadas hoje no Brasil. Sem nenhuma perspectiva de assentamento.
No Rio Grande do Sul, o MST calcula que há mais de duas mil famílias acampadas na beira de estradas em várias regiões do Estado.
— Por conta da crise, aumentou o número de acampados. Há três anos, tínhamos apenas umas cem famílias acampadas aqui no Rio Grande do Sul. Com a crise econômica, aumentou o número de famílias procurando o MST para ir acampar — afirma Ildo Pereira, integrante da direção nacional do movimento.
O aumento dos acampamentos, a falta de novos assentamentos e a paralisia das políticas de reforma agrária compõem o eixo central da pauta da Jornada Nacional de Lutas pela reforma agrária. A campanha do MST, também conhecida como Abril Vermelho, teve início esta semana, em todo o país.
Em Porto Alegre, cerca de 2 mil trabalhadores rurais sem terra, entre acampados e assentados na reforma agrária, ocuparam no início da manhã os pátios do Instituto Nacional de Colonização e reforma agrária (Incra) e do Ministério da Fazenda. Ainda segundo o MST, a desocupação dos pátios ocorrerá somente após o atendimento de ao menos uma parte da pauta de reivindicações do movimento.
Retorno às origens
Assentado em Hulha Negra, Ildo Pereira relata que trabalhadores desempregados que vivem hoje na periferia das cidades, mas tem origem no meio rural, vem procurando o MST em busca de alternativas para suas famílias.
— Com o retrocesso que estamos vendo no país, muitas pessoas procuram retornar às suas origens. Boa parte dessas pessoas que estão procurando nossos acampamentos são fruto dessa crise — observa.
A paralisia do programa de reforma agrária e a interrupção das políticas nesta área vêm causando sérios problema de infraestrutura para os assentamentos, denuncia ainda o MST. Os assentados reivindicam a construção de moradias, a abertura de estradas para escoamento da produção e circulação do transporte escolar, bem como a implantação de redes de água.
— Temos R$ 38 milhões do Ministério da Integração Nacional. Mais R$ 2 milhões do governo Tarso Genro para investir nas redes de abastecimento de água. Mas, até hoje, temos obras completamente paradas. Com as chuvas que tivemos nos últimos dias aqui no Estado a produção não trafega mais. Nem nossos estudantes conseguem ir para as escolas — diz Ildo Pereira.
Agronegócio
A Jornada Nacional de Lutas pela reforma agrária protesta também contra a Medida Provisória 759. O texto, do governo de Michel Temer (PMDB), altera a legislação fundiária. Distorce os procedimentos para a efetivação da reforma agrária. Para o MST, a MP 759, na prática, resulta na privatização dos lotes e na paralisia da reforma agrária. Municipaliza o processo de desconcentração fundiária. Atribui aos municípios a função de vistoria, desapropriação de terra e definição de assentados.
— Nós não somos contra a titulação. Queremos uma titulação que seja uma concessão que eu possa passar. Que possa deixar, por exemplo, para o meu filho ou a minha mulher. O governo federal quer estimular a venda da terra. Nós sabemos que quem vai comprar as terras não serão assentados, mas sim o agronegócio — conclui o dirigente do movimento.