O ministro extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome, José Graziano da Silva, disse que o governo tem consciência de que o Fome Zero não vai acabar com a pobreza no país. Em entrevista à BBC Brasil, em que respondeu perguntas enviadas por internautas, ele afirmou que o problema da pobreza é muito maior e exige outras ações do governo e da sociedade.
— O Fome Zero não é um programa de combate à pobreza, é um programa de combate à fome — afirmou Graziano. Segundo ele, para atender aos “quase 100 milhões de pobres e remediados” do país e tirá-los da pobreza, são necessárias outras ações, como crescimento econômico, melhoria da infra-estrutura, da educação.
— São ações que vão ser feitas — afirmou. Graziano disse que o Fome Zero só visa atender aos mais necessitados e responder a uma situação emergencial. Ainda assim, o ministro acha que o volume de recursos destinados ao programa deve triplicar em 2004, dos atuais R$ 2 bilhões para R$ 6 bilhões por ano.
Ao contrário de outros setores do governo, que alegam a falta de recursos para tocar todos os projetos, o ministro de Segurança Alimentar diz que sua pasta não foi atingida pelo fechamento da torneira dos gastos.
— O presidente Lula deixou claro desde o início que o Fome Zero não estaria sujeito às restrições orçamentárias, e isso tem acontecido. Tenho recebido todo o apoio do ministro (Antonio) Palocci (Fazenda) — afirmou.
A distribuição de alimentos é apenas uma parte do Fome Zero, segundo Graziano.
— Estamos fazendo isso com as pessoas que estão num estado de carência alimentar muito agudo.
O principal objetivo do Fome Zero, disse ele, é criar um mecanismo que permita a criação de trabalho e renda e o desenvolvimento da comunidade com seus próprios meios. Na entrevista, Graziano disse que isso já está acontecendo em Guaribas, cidade do interior do Piauí onde o programa começou, há seis meses.
Segundo ele, a cidade teve neste ano uma produção recorde de feijão, incentivada pelo financiamento do governo para a agricultura familiar. O ministro disse que o governo federal também comprou os alimentos produzidos, para aumentar os estoques que, segundo ele, estavam zerados no fim do governo anterior e com isso o preço foi garantido.
— Estamos atuando nas duas pontas: aumentando a demanda, ao dar dinheiro para que as pessoas possam consumir, e aumentando a oferta ao financiar o plantio — afirmou Graziano.
Vários dos internautas que enviaram perguntas ao ministro criticaram o que consideram lentidão do programa Fome Zero, mas o ministro rebateu a acusação.
— Nós já superamos em agosto as metas previstas para dezembro — afirmou.
Ele também voltou a criticar o cadastramento realizado pelo governo anterior, que deixava de fora pessoas que não tinham documentos enquanto incluía pessoas que não eram as mais pobres da localidade.
— Já tiramos os que não precisam, mas agora estamos incluindo os que precisam e estavam de fora, mas isso demora um tempo — afirmou o ministro.
Respondendo a um internauta que chamou o programa Fome Zero de "utopia", o ministro respondeu:
— É uma utopia, no sentido de que é uma coisa que a gente deseja muito.