Desde 2014, quando foi lançada a política brasileira para a energia fotovoltaica, “apenas uma grande fábrica de equipamentos foi confirmada no país, pela Canadian Solar”, afirma o jornalista Luciano Costa
Por Redação - do Rio de Janeiro
Os planos do Brasil de desenvolver uma indústria local de equipamentos para energia solar e fomentar a construção de usinas deste gênero têm andado em ritmo lento. O que leva o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a avaliar mudanças em um programa que busca atrair para o país fornecedores de equipamentos para o setor.
Desde 2014, quando foi lançada a política brasileira para a energia fotovoltaica, “apenas uma grande fábrica de equipamentos foi confirmada no país, pela Canadian Solar”, afirma o jornalista Luciano Costa, repórter de setor elétrico e commodities na agência internacional de notícias Thomson Reuters.
Leia, adiante, a íntegra do texto:
Nesse período, foram realizados três leilões que contrataram quase 3 gigawatts em usinas fotovoltaicas, mas menos de 20% desses empreendimentos tiveram obras iniciadas até o momento, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
A maior parte dos investidores contava com financiamentos do BNDES, que só podem ser concedidos para usinas com um nível de conteúdo local pré-estabelecido pelo banco. Com o gargalo na capacidade dos fornecedores nacionais, muitas empresas tentam agora negociar com o governo um cancelamento dos empreendimentos para evitar multas.
"Estava todo mundo esperando o BNDES... agora está todo mundo desesperado com esses projetos... É um mercado dependente do BNDES", afirmou à Reuters o especialista em setor elétrico da consultoria E&Y, João Victor Ferraz.
A superintendente de energia do BNDES, Carla Primavera, disse que o banco tenta atrair mais fornecedores de painéis solares para o Brasil ao mesmo tempo em que estuda mudanças em suas regras de conteúdo local.
Essa regras, válidas desde 2014, previam originalmente um aumento da exigência de nacionalização em 2018 e depois em 2020, mas uma flexibilização está sendo discutida.
"A gente está debatendo o que seria, eventualmente, uma alteração (nas exigências) para o futuro. Levando em consideração, inclusive, que a demanda por energia está em debate", disse Carla Primavera.
De acordo com a executiva, o assunto tem sido tratado pelo banco junto à Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar), que reúne investidores em usinas e produtores de equipamentos do setor.
Energia solar
No final de 2016, o governo chegou a cancelar um leilão previsto para dezembro que contrataria novas usinas eólicas e solares, em meio a uma baixa demanda por eletricidade devido à crise econômica do país.
O presidente da consultoria Braselco, Armando Abreu, avalia que o cancelamento tornou ainda mais difícil a atração de indústrias de painéis solares para o Brasil.
"Para os fabricantes, tem que haver mercado... Foi um péssimo exemplo. As empresas se prepararam para ir ao leilão e foi cancelado. Isso leva a uma desconfiança dos investidores, eles não têm nenhuma segurança de vir para o Brasil montar suas fábricas", disse.
Governadores de Estados da região Nordeste também se queixaram e tentaram convencer o governo federal a voltar atrás na decisão, mas o Ministério de Minas e Energia disse que eventuais novos leilões dependem de uma análise em andamento sobre o cenário de oferta e demanda por energia no país.
A energia solar responde atualmente por apenas 0,02% da matriz elétrica brasileira. Se viabilizados todos os projetos contratados nos últimos leilões, a expansão elevaria a participação desta fonte energética a quase 2%.
Cenário global
O principal problema para o surgimento de uma indústria solar nacional é, segundo os especialistas, a forte competição com os painéis chineses, que são muito mais baratos. Em um cenário global, dificilmente produtos produzidos no Brasil teriam chances de concorrer.
A diferença de preços inclusive faz com que projetos de geração de pequeno porte, como a instalação de placas solares em telhados, por exemplo, utilizem hoje principalmente equipamentos chineses, disse à Reuters o diretor da CPFL Eficiência, Pablo Becker. "O Brasil não é competitivo em painéis”, afirmou.
Os módulos solares produzidos pela Canadian Solar no Brasil custam entre 35 e 40% a mais do que o equipamento importado da China, disse o diretor de vendas da empresa para América do Sul, Hugo Albuquerque.
— Hoje o principal fator que causa a diferença é o imposto... e também tem um fator de aprendizado. A gente espera conseguir reduzir (os custos) no médio prazo em entre 5 e 10% — disse.
Maior mercado
Em meio a esse cenário, o BNDES também passou a analisar alternativas para financiar mais projetos de pequeno porte, chamados de microgeração solar.
— É uma agenda estratégica para nós, fazer esse fomento, aumentar esse apoio ao longo de 2017 — disse Carla Primavera.
Segundo Albuquerque, da Canadian Solar, essas pequenas instalações também estão no radar da companhia:
— Esse vai ser o maior mercado do Brasil nos próximos anos.
Nesta semana, a Aneel divulgou que o Brasil tem 7,6 mil pequenos sistemas de geração instalados por consumidores, a maior parte deles de energia solar, o que representa avanço de mais de 300% ante o final de 2015.