Fora de competição, provavelmente por não ser inédito, o filme Mensageiras da Luz, de Evaldo Mocarzel, ex-editor do Caderno 2 do Estado, tem lugar de destaque na Semana da Crítica do Festival de Cinema de Locarno. "As parteiras brasileiras nos levam às origens da vida", afirma Irene Genhart, da comissão de seleção, no catálogo de apresentação dessa importante mostra paralela de Locarno, com vida e selecionadores próprios.
Foi Paulo Roberto de Carvalho, brasileiro diretor do Festival alemão de Tuebingen, membro da comissão de programa de Locarno, quem trouxe do Brasil o filme de Mocarzel. Franciska Trefzer, uma das selecionadoras da Semana da Crítica, gostou e ela mesma tem palavras entusiasmadas sobre o filme - "as parteiras amazonenses sabem se impor e são seguras de si mesmas. Quer sejam índias, negras ou brancas, todas possuem em comum o mesmo sentido da honra profissional e tem orgulho de suas tradições e de sua profissão. As mulheres que Mocarzel questiona no seu filme exercem sua profissão como atividade secundária. Receberam das mães os rudimentos da profissão e estão persuadidas que ser parteira é uma vocação. Em conseqüência, a maioria delas não pede remuneração por seus serviços. Elas são céticas quanto aos métodos dos hospitais que recorrem muito fácil à tesoura e ao bisturi".
Franciska Trefzer lembra que "nas cidades brasileiras, aumenta o número de cesarianas, mas não na região do Amapá, onde a proporção de nascimentos normais é a mais elevada - 88% das mulheres dão à luz com a ajuda de 918 parteiras." O catálogo da Semana da Crítica acentua que, na região filmada, embora com antenas parabólicas de televisão, nunca se vê uma câmera de cinema. As tomadas de cenas foram feitas em função dos nascimentos, razão pela qual se vê, não só as parteiras em ação, mas também o cineasta. Mesangeiras da Luz será exibido nos dia 9 e 10, em salas diferentes, em versão original brasileira, com legenda em inglês e tradução simultânea em francês.