Rio de Janeiro, 22 de Dezembro de 2024

Manifestações geram repercussão dentro e fora do país

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Quinta, 16 de Março de 2017 às 11:57, por: CdB

Sobre as manifestações, Dilma alertou para o fato que as mulheres serão as mais prejudicadas pelas mudanças propostas pelo presidente Michel Temer. Foi aplaudida, de pé, no auditório lotado

 

Por Redação - de São Paulo

 

A presidenta cassada Dilma Rousseff (PT) se solidarizou com os mais de 5 milhões que foram às ruas, nos cálculos dos organizadores ouvidos pela reportagem do Correio do Brasil. Dilma gravou um vídeo, divulgado nas redes sociais, no qual fala em uma conferência sobre neoliberalismo e democracia. Em visita a Lisboa, Dilma alertou para o fato que as mulheres serão as mais prejudicadas pelas mudanças propostas pelo presidente Michel Temer. Foi aplaudida, de pé, no auditório lotado.

manif-rj.jpgMilhares de cariocas reuniram-se na Candelária, nas manifestações contra a reforma da Previdência

Com a reforma da Previdência, será preciso ter 65 anos de idade para se aposentar, tanto para homens quanto para mulheres. Mesmo assim se conseguirem provar mais 25 anos de recolhimento. Porém, para receber 100% no benefício serão necessários, na prática, 49 anos de recolhimento.

Hoje não há idade mínima para a aposentadoria por tempo de contribuição. São necessários 35 anos de recolhimento para homens e 30 para mulheres. Para se aposentar por idade, pelas regras atuais, é necessário ter pelo menos 15 anos de recolhimento e 65 anos de idade para os homens e 60 para as mulheres.

Aplaudida de pé

— Estudos mostram que no Brasil, em média, uma pessoa ao longo da sua vida da trabalho passa sete anos desempregado ou em trabalhos precários, sem recolher. Isso quer dizer que aos 49 anos deve-se acrescentar mais sete,  que dá um total de 56 anos – 65 menos 56 dá 9 anos, significa que é a idade que a pessoa teria que começar a trabalhar no Brasil, o que é um absurdo e um crime contra aquilo que pode significar uma transformação para o Brasil, que é garantir aos jovens e às crianças a única coisa necessária para que o país se transforme em uma nação desenvolvida: a educação — afirmou Dilma.

As vagas para a conferência de Dilma Rousseff, intitulada "Neoliberalismo, desigualdade, democracia sob ataque" esgotaram-se em 20 minutos. Como os 450 lugares do teatro Trindade, na capital portuguesa, não foram suficientes, a organização do evento instalou um telão no lobby do teatro com transmissão simultânea para que os demais interessados pudessem acompanhar sua fala, que durou cerca de uma hora.

— As mulheres serão as mais prejudicadas. Se os homens enfrentam esse problema de sete anos de trabalho interrompidos, imaginem a mulher em um país onde a divisão sexual do trabalho ainda extremamente cruel com as mulheres. Então milhões de pessoas foram às ruas hoje se solidarizar com todos eles — pontuou.

As manifestações

Ainda nas redes sociais, o jornalista Gilberto Maringoni (PSOL-SP) fez uma análise sobre os protestos que arrastaram multidões nas principais capitais brasileiras:

1. Tudo indica que o dia de protestos superou as expectativas dos mais otimistas. Aconteceram em todo o país, desde capitais até cidades médias e pequenas. O sucesso não deve ser medido apenas pelo número de pessoas - ainda não calculado, mas que bem pode, no total, chegar a um milhão - mas por ter entrado para a agenda nacional.

2. Um tema entra para a agenda nacional quando torna-se assunto de conversas, da mídia e sobre o qual a maioria das pessoas emite opinião. O fato de a maior parte das paralisações ter encontrado eco e simpatia até mesmo entre os não diretamente envolvidos nelas é um poderoso sinal de que a questão da Previdência não é abstrata.

3. Ao contrário de outras iniciativas governamentais, como a PEC 55, a reforma trabalhista, as privatizações etc., as mudanças na Seguridade Social são bem concretas para a maioria dos trabalhadores. Reforma passou a significar redução de direitos..

Efeito multiplicador

4. Essa narrativa o governo e a mídia perderam. O discurso em rede nacional de Michel Temer, na mesma noite, soou patético: "A sociedade brasileira, pouco a pouco, vai entendendo que é preciso dar apoio a este caminho para colocar o país nos trilhos". Uma pinóia! A sociedade vai entendendo o oposto e não quer ser levada no bico.

5. A mídia, Globo à frente, parece ter hesitado em como tratar a questão. Pela manhã, repórteres previamente pautados tentaram induzir populares a lhes preencher aspas contra as mobilizações, em transmissões ao vivo. Fracassaram. À noite, pelo menos no Jornal Nacional, foi impossível não se render às evidências: atos maciços de norte a sul se impuseram nas pautas das redações. O efeito multiplicador dessa repercussão ainda não pode ser determinado.

6. O ato mais expressivo parece ter sido o de São Paulo. Setores de ultraesquerda - aparentemente sem discernir o que levou milhares de pessoas às ruas - repetiam sofregamente um "Fora Temer". E a extemporânea "Diretas Já" do alto do palanque. Outros mais afoitos bradaram "revolução socialista" a plenos decibéis. Tudo bem, todos ali são contra o governo golpista. Mas agora há um móvel concreto de luta que não pode ser ignorado: a reforma da Previdência.

Juiz medíocre

7. Coube ao representante do PCdoB, a Edson Carneiro Índio, da Intersindical e a Guilherme Boulos, entre outros, aprumarem o tom geral da mobilização. E a Lula que, em não mais que 15 minutos, cantou a letra. Em um de seus mais objetivos e diretos discursos recentes, enunciou números e conceitos: o possível déficit da Previdência não é produto de altos gastos, mas de baixos ingressos. Desemprego em ascensão gera retração de contribuições para o sistema. Pela primeira vez, o ex-presidente colocou-se contrário às reformas e atacou sua criatura, Henrique Meirelles, de frente.

8. A presença de Lula, ao contrário de algumas opiniões, deu densidade ao ato, mesmo para os que não lhe são simpáticos. Acossado por um juiz medíocre de Brasília, que tentou humilhá-lo em depoimento no dia anterior, o ex-presidente parece ter chegado à Paulista com sangues nos olhos. Vendo para onde o vento sopra, não é descabido que ele paute suas jornadas daqui para a frente por um discurso desenvolvimentista e à esquerda mais claro.

9. O dia de protesto tem grande chance de se multiplicar. E dar novo êmulo à disposição de lutas de várias categorias e ativistas. Estamos diante - repetimos - da única reforma que - por sua concretude - tem chances de ser derrotada.

Lista de Janot

10. O governo corre contra o calendário. Sabe que quanto mais tempo passar, mais difícil será manter a coesão de sua base para aprovar uma medida para lá de impopular. A crise vem a galope e o descontentamento geral aumenta, o que exacerba tensões palacianas em tempos de Lista de Janot.

11. Por fim, uma observação: as mobilizações desse dia têm qualidade superior às de 2013. Não são horizontais e sustentadas por discursos democratistas de espontaneísmo. Resultam de longo e árduo preparo, investimento material e trabalho intenso de agitação e propaganda (oba!), a cargo de dirigentes, intelectuais, professores, jornalistas e ativistas de todo tipo. São o coroamento de esforços que remontam pelo menos seis meses. Têm comando. Essa marca traz uma lufada de otimismo para um país que pode ter saído da passividade. E decolado para o enfrentamento polarizado com o golpismo.

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