Uma maioria enormemente reduzida no Parlamento pode frustrar os esforços do premiê britânico reeleito, Tony Blair, para aprovar as suas propostas e cumprir todo o seu terceiro mandato.
Neste sábado, conforme assenta-se a poeira da terceira vitória consecutiva de Blair, a primeira vez que isso ocorre na história do seu Partido Trabalhista, de centro-esquerda, as atenções se voltam para os efeitos que uma maioria reduzida de 161 para apenas 66 cadeiras pode ter na implementação do programa de governo trabalhista.
"Ele vai ter que fazer concessões e acordos," disse Mark Seddon, dirigente do Partido Trabalhista e político de esquerda.
Blair prometeu na sexta-feira um "programa radical" de reformas em saúde, educação, imigração e polícia. As prioridades da política externa, segundo ele, serão a pobreza africana, as mudanças climáticas e o confilto entre israelenses e palestinos.
Os aliados de Blair argumentam que era fácil para os trabalhistas mais à esquerda se rebelarem quando sabiam que o líder do partido tinha uma maioria que no final lhe daria a vitória. Agora, os rebeldes pensariam duas vezes, já que uma revolta poderia ser fatal para o próprio governo.
Um exame por alto na bancada trabalhista mostra que cerca de 40 se opõem seriamente ao premiê desde que ele foi à guerra contra o Iraque e provavelmente não vão mudar.
Se esses trabalhistas se aliarem com parlamentares de outro partido, a maioria de Blair desaparecerá. Planos por carteiras de identidade compulsória e mais ações antiterroristas podem ficar de lado devido à nova composição política.
"Tony Blair precisa refletir se ele pode com êxito mudar a sua maneira de atuar. Voltar aos valores, princípios e prioridades do Partido Trabalhista," disse o ex-ministro do Exterior Robin Cook. Já ocupando um outro posto, ele deixou o governo por causa da guerra no Iraque.
Até agora, Blair fez da sua oposição aos trabalhistas tradicionais de esquerda uma virtude. Ele não pode mais agir assim.
Blair tem dito que vai servir todo o seu terceiro mandado e que não vai concorrer a um quarto. No entanto, trabalhistas dizem que isso pode ser ambição demais.
O premiê pode deixar o posto dentro de um ano se ele não conseguir convencer os britânicos a apoiar a Constituição Européia em um prometido referendo.
Com os trabalhistas conquistando apenas 36 por cento do eleitorado nacional, o menor índice para um partido vitorioso na história, muitos parlamentares do trabalhismo já vêem Blair como um custo e não como um benefício.
"Ele (Blair) precisa analisar profundamente se a melhor maneira de proteger o seu legado não seria fazer o favor de deixar o cargo cedo antes do que tarde," afirmou Robin Cook.
Os jornais britânicos estão cheios de especulações sobre o destino a longo prazo do primeiro-ministro.
Esperando a sua vez está Gordon Brown, o ministro responsável pela Economia no governo Blair. O poder já está se transferindo visivelmente para Brown depois que o premiê reconheceu durante a campanha eleitoral a importância de Brown para a vitória.
Brown, 54 anos, tem a seu favor o fato de a economia britânica ter tido melhor perfomance do que os vizinhos europeus durante o período de refluxo mundial.
Uma boa notícia para o premiê foi a saída de Michael Howard da liderança do Partido Conservador, que abriu um novo período de turbulência na agremiação.