Uma máfia envolvendo donos de postos de combustíveis agia em Cuiabá intimidando quem ousasse ir contra os interesses de um certo grupo. É o que revelou na última terça-feira à tarde o cabo Hércules de Araújo Agostinho, durante depoimento prestado na 12ª Vara Criminal.
Hércules pediu para ser ouvido novamente pela juíza Maria Aparecida Ferreira Fago, no processo que apura a morte do sargento José Jesus de Freitas e dois seguranças, em 27 de abril do ano passado.
Em depoimento que durou duas horas e 50 minutos, Hércules disse que o sargento Jesus era contratado por donos de postos de combustíveis para intimidar concorrentes que vendessem a um preço mais baixo num mesmo trajeto. Célio e João Leite eram os encarregados de metralharem os postos e os carros dos proprietários.
- Célio é quem contava isso e a intenção era apenas meter medo, sem ferir as pessoas - disse Hércules.
Hércules confirmou o que já havia revelado ao juiz César Augusto Bearsi, da 3ª Vara Federal, quando depôs e confessou os assassinatos de Jesus, os dois seguranças e de Rivelino Brunini e Fauze Rachid Jaudy.
Hércules tornou a afirmar que ele e Célio mataram Jesus para não serem mortos por ele. Confirmou o depoimento anterior, que João Leite primeiro convidou os dois para matar Jesus, que lhe havia dado um 'chapéu' por conta de umas comissões. Mais tarde, Leite contou a Jesus, com quem voltara a se entender, que os dois planejavam matá-lo.
Jesus chamou cabo Valdir para fazer o 'serviço' e lhe entregou um fuzil .30, mais 60 munições. Valdir, que era compadre de Célio, teria dito: 'façam o serviço antes que ele façam vocês'. Os dois, então, passaram a se preparar para a emboscada. Foram até o local e viram que havia um terreno ao lado. Antes do dia 27 de abril, Hércules e Célio já havia tentado matar o sargento Jesus na noite de seu aniversário, mas não deu certo.
Hércules e Célio usaram quatro armas: cada um, uma pistola e um fuzil, conforme apontou o inquérito policial. Na fuga, Hércules disse que ao passarem próximo ao Hospital Jardim Cuiabá se depararam com o vigia que, de arma na mão, estava indo averiguar a causa dos disparos. Para assustá-lo, Hércules atirou na fachada do hospital.
Hércules contou que jogou seu fuzil num matagal perto da casa da sogra e ateou fogo, destruindo a arma. A pistola usada na morte de Jesus foi a mesma utilizada no assassinato do empresário Sávio Brandão. A única das quatro armas utilizadas e que foi apreendida foi um fuzil que a polícia encontrou na casa de Célio. Hércules afirmou que não sabe o que Célio fez com a arma dele.
Depois de ficarem 40 minutos esperando, Hércules viu do alto de uma escada encostada no muro do terreno quando o carro de Jesus chegou. Primeiro entrou Silene na casa. Quando Jesus estava quase entrando, a ele começou a fuzilaria. Primeiro foram dois tiros nas costas do sargento. Deu apenas um tiro em Fernandes e os outros disparos foram feitos por Célio. Após chegarem perto do corpo, primeiro quem atirou foi Célio.
Na noite do crime Hércules disse à juíza que estava de serviço no 4º Batalhão da PM. Saiu por volta das 21h e foi para a casa de Célio, depois de ter dito a um colega que iria 'sair um pouco'. Após a chacina, um colega ligou e disse que o sargento Jesus havia sido morto e que a coisa estava 'fervendo' e o oficial do dia poderia aparecer.
Máfia dos combustíveis envolve sargento em MT
Arquivado em:
Quarta, 01 de Outubro de 2003 às 00:36, por: CdB