O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em um contundente discurso na manhã desta segunda-feira, em São Petesburgo, na Rússia, disse que as negociações para uma Agenda do Desenvolvimento na Organização Mundial do Comércio (OMC) estão em crise e cobrou participação dos líderes mundiais.
- É uma crise política. É uma crise de falta de liderança. Não é em situação de tranqüilidade que precisamos de líderes. Os líderes surgem, atuam e são reconhecidos nos momentos de crise. A Rodada de Doha está em crise. A omissão não é uma resposta aceitável - afirmou, durante reunião da Cúpula do G8.
O presidente disse que está pronto para instruir o seu ministro encarregado das negociações a demonstrar a flexibilidade requerida para que a Rodada de Doha seja ambiciosa e equilibrada, com ganhos para todos.
- Não espero menos dos meus colegas aqui presentes. Devemos fazer o que é necessário e o que é justo. Todos temos limitações, mas temos que encará-las com sentido de responsabilidade histórica - disse.
O presidente Lula, representando as nações em desenvolvimento, criticou ainda o patamar dos subsídios, que segundo ele, são excessivos, ilegais e desumanos.
- Os dispêndios efetivos com subsídios agrícolas têm que cair de forma substancial - afirmou.
Segundo ele, é injustificado o grau de protecionismo nos mercados desenvolvidos. O presidente destacou também que os países pobres não precisam de favores, mas de condições eqüitativas para fazerem valer suas vantagens comparativas. E disse que uma das prioridades nas negociações é a agricultura. Lula lembrou que enquanto o apoio dos países desenvolvidos chega a US$ 1 bilhão por dia, 900 milhões de pessoas da área rural do mundo em desenvolvimento vivem com menos de um dólar por dia.
- Na agricultura, meio de vida de grande parte das populações mais pobres do mundo, os subsídios - há décadas proibidos no setor industrial - continuam exportando miséria e fome para nações menos desenvolvidas.
Segundo o presidente, é falacioso e injusto dizer que os avanços na área agrícola devem ser viabilizados pelas concessões dos países pobres:
- A participação desses países no comércio internacional é ainda relativamente pequena e sua contribuição jamais será capaz de fechar o hiato entre as posições negociadoras dos países ricos em agricultura.
Lula disse que muitos países em desenvolvimento, entre eles o Brasil, já deram sinais de que estão prontos para contribuir para Rodada com movimentos importantes em bens industriais e serviços, proporcionais ao seu grau de desenvolvimento. O grupo dos mais países mais ricos do mundo promoveu nesta segunda-feira uma reunião com os países em desenvolvimento e organizações internacionais. Participaram Brasil, África do Sul, China, Índia e México. Também estava presente o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan.