A proposta de reforma tributária, objeto de acordo político para aprovação nesta semana, é, para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, resultado da " cabeça política dos políticos brasileiros " .
Em entrevista à imprensa, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, e depois de ter comemorado, aliviado, o desfecho dos entendimentos feitos pelo ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu, com quem falou por telefone, na tarde de sábado, Lula comentou: " Não dá para você inventar. Não dá para você fazer uma reforma virtual, aquela do desejo do presidente, aquela do desejo do ministro tal qual. A reforma, na medida que entra no Congresso Nacional, será o resultado da visão do Congresso. E nós, enquanto Executivo, temos apenas de acatar a decisão do Congresso Nacional " .
O presidente fez o comentário sobre a reforma num dos raríssimos momentos em que admitiu falar sobre questões de política interna.
O acordo para votação em plenário retirou do projeto todos os aspectos polêmicos da proposta que se referiam a uma reforma tributária, e o que ficou é basicamente a parte que o governo precisa para produzir o superávit primário de 4,25% do PIB em 2004, como a prorrogação da CPMF e da Desvinculação das Receitas da União (DRU). Indagado, após a entrevista coletiva, se o que sobrou do projeto de reforma o deixava satisfeito, o presidente respondeu, embora de bom humor, " olha a minha cara (e sorri). Quando eu chegar ao Brasil eu vou convocar uma entrevista coletiva para falar sobre isso " .
Desde o início, o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, conhecia bem as dificuldades de se fazer reforma do sistema de impostos no país em meio a um brutal ajuste fiscal que foi implementado e que não se encerra no curto prazo. Já contava, inclusive, com a alternativa de aprovar apenas os aspectos que interessam ao ajuste fiscal, deixando o resto para um futuro imprevisível. Lula foi claro na entrevista neste domingo: " A reforma que vai sair do Congresso é a reforma que a cabeça política dos políticos brasileiros permite que saia. Essa é a reforma possível " .
Quando retornar, além da entrevista coletiva para falar sobre as reformas, Lula programou uma reunião com todos os ministros para fazer um balanço do seu primeiro ano de gestão. O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), disse ontem que vão participar ainda os líderes do governo no Congresso, que também devem apresentar os resultados da articulação entre Executivo e Legislativo neste período.