Rio de Janeiro, 21 de Dezembro de 2024

Luciana e o paspalhão

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Quinta, 25 de Setembro de 2014 às 13:00, por: CdB
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Colunista Bessa Freire comenta o debate na CNBB, no qual a candidata Luciana Genro nocauteou o candidato Aécio Neves
Depois da porrada que pegou da candidata Luciana Genro (PSOL), Aécio Neves (PSDB) ficou com cara de égua, não há mais qualquer diferença entre ele - o homem do aeroporto - e Levy Fidelix (PRTB) - o homem do aerotrem. A surra de Luciana, com todo respeito, reduziu Aécio a subnitrato de pó de peido. Aconteceu no debate entre os principais candidatos à Presidência da República realizado pela CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Se houvesse uma Lei Afif Domingos, punindo opositores que nocauteiam seus adversários em debates televisivos, ela poderia ser agora invocada. Vocês lembram de Guilherme Afif Domingos? Em 1989 era o candidato do PL a presidente da República. Disparava nas pesquisas em ascensão alucinante. O jingle "Juntos chegaremos lá" era cantado - que desespero! - até por meus sobrinhos pequenos em Manaus. Foi aí que no debate da Band, Afif cutuca Mário Covas (PSDB) com vara curta perguntando com qual cara ele ia se apresentar na eleição. Covas, rápido no gatilho, desossou seu oponente. Desmontou Afif letra por letra. Não ficou efe sobre efe. Não sobrou nem o Ai. O Brasil inteiro testemunhou a vertiginosa queda: "juntos chegamos ao chão". A cara de égua de Afif era o sinal de sua derrota. Até as crianças, envergonhadas, deixaram de cantar o jingle pegajoso. Inspirado na Lei Maria da Penha que pune a violência doméstica e familiar praticada por machões covardes contra as mulheres, o PSDB vai apresentar o projeto da Lei Afif ao Congresso Nacional, proibindo desmascarar os caras de égua fora do cio em debates públicos. Uma ova Não vi o debate ao vivo, mas fui advertido por um amigo em Florianópolis, onde me encontrava para um evento na Universidade Federal de Santa Catarina. Ele admitiu, brincando, que a performance de Luciana Genro fez com que duvidasse do seu próprio voto em Dilma. Procurei e encontrei facilmente a gravação, pois as imagens estão bombando nas redes sociais. Se você não pretende votar em Luciana, recomendo que não veja o vídeo. Pode mudar de voto. Tudo começou quando o puxa-saco do Pastor Everaldo, fingindo cara de honesto, perguntou a Aécio o que ele achava do escândalo da Petrobrás. Fingindo cara de Pastor, Aécio se apresentou como o campeão da moralidade, denunciando a corrupção. Depois, pelo sorteio, ele perguntou à Luciana Genro sobre seu programa para melhorar a educação. Ela, então, preferiu comentar a fala anterior para educar os telespectadores. Deu-lhe uma merecida surra, com um discurso bem articulado, falando o que o Brasil queria ouvir: - O senhor fala como se no governo do PSDB nunca tivesse havido corrupção, quando na realidade nós sabemos que o PSDB foi o precursor do mensalão com o seu correligionário e conterrâneo Eduardo Azeredo. O PT deu continuidade a essa prática de aparelhamento do Estado que o PSDB havia implementado durante o processo de compra da reeleição do mandato de FHC, amplamente divulgada pela mídia. Foi público e notório o processo conhecido como "privataria tucana". O senhor falando do PT é como o sujo falando do mal lavado. Completamente tonto, sem poder responder às graves denúncias, Aécio, bufão pós-moderno, replicou que Luciana havia retornado às suas origens, "atuando como linha auxiliar do PT". A emenda foi pior que o soneto, tal avaliação grotesca provou ser insustentável e inconsistente diante das críticas contundentes feitas por ela ao petismo no poder. Por isso, na tréplica, o que ela disse foi aplaudido por todo o Brasil: - Com todo respeito, linha auxiliar do PT uma ova, candidato Aécio. O PT aprendeu com o senhor, aprendeu com o seu partido. O mensalão do PT foi iniciado no governo do PSDB. E o senhor não tem resposta para debater comigo sobre corrupção, até porque o senhor foi protagonista de um dos últimos escândalos, antes desse da Petrobras. Mulheres, cheguei! O Santuário Nossa Senhora Aparecida, onde foi realizado o debate, tremeu em seus alicerces. A candidata exemplificou, deixando Aécio segurando o queixo para impedi-lo de cair: - O senhor foi o protagonista do escândalo do aeroporto, utilizou dinheiro público para construir um aeroporto próximo das fazendas da sua família, e inclusive entregou a chave para seu tio. O senhor é tão fanático das privatizações que consegue privatizar um aeroporto e entregar para sua própria família, e tão fanático da corrupção que consegue utilizar dinheiro público para construir um aeroporto beneficiando exclusivamente a sua família. É realmente escandaloso o que o PSDB faz no Brasil. Aécio pediu para apanhar, como dizia dona Elisa quando tirava o couro deste locutor que vos fala. Quem construiu o Aécioporto, que custou quase R$ 14 milhões aos cofres públicos, demonstra que não é contra a corrupção em si, mas apenas quando ela é feita pelos outros. Ataca quem está mamando, não por ser contra a mamata, mas porque quer ocupar o lugar dos mamadores. Existem homens inteligentes e honrados? Sim, esse locutor que vos fala é um aspirante e também seus leitores, entre os quais se encontra Tarcisio Motta, candidato a governador do Rio pelo PSOL. Existem homens babacas e corruptos? Aos potes. E mulheres inteligentes e sensíveis? Minhas nove irmãs, minhas sobrinhas, minhas alunas, minhas amigas e as raras leitoras incautas do taquiprati que não caem na lábia de um Dom Juan de várzea. Mas tem também algumas mulheres espertalhonas, taí a senadora Kátia Abreu que não me deixa mentir. Então, o voto não passa pela questão de gênero. No entanto, nessas eleições, o gênero conta. As três mulheres candidatas a presidente da República - Luciana, Marina e Dilma - dão de dez a zero no macharal. A lista dos candidatos homens e de seus partidos é de-so-la-do-ra, não se salva um: Levy Fidelix, Pastor Everaldo, José Maria Eymael, até mesmo Eduardo Jorge (PV), que ao contrário dos outros, é correto, mas sem poder de fogo na argumentação. Sem falar no Aécio Neves (PSDB) que é um paspalhão, embora tenha entre seus eleitores alguma gente fina. A gente pode discordar de FHC e de José Serra, mas até os adversários reconhecem neles um perfil de homem público que não envergonha o gênero. Já Aécio e os demais candidatos desta safra são decididamente medíocres, não tem o dom da oratória, não convencem, uns não fedem nem cheiram, outros cheiram e fedem. Os partidos buscaram o que havia de pior nos seus quadros masculinos. Se um marciano desembarcasse no planeta Terra e visse nada mais que o debate como amostragem do gênero, concluiria que as mulheres são incrivelmente superiores aos homens. Os caras são excepcionalmente ruins. Confesso que o discurso de Luciana me deixou de alma lavada. Suspeito que não só a mim. Com nove irmãs, o meu lado mulherzinha se rejubila com a atuação das três candidatas. Uma delas vai presidir o Brasil nos próximos anos. Graças à deusa. P.S. - Jorge e Gina obrigado pela dica. Embora votando em candidatas diferentes, estamos com as mulheres. José Ribamar Bessa Freire é professor da Pós-Graduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNI-Rio), onde orienta pesquisas de doutorado e mestrado e da Faculdade de Educação da UERJ, onde coordena o Programa de Estudos dos Povos Indigenas.coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ), pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO) e edita o site-blog Taqui Pra Ti. Tem mestrado em Paris e doutorado no Rio de Janeiro. É colunista do novo Direto da Redação. Direto da Redação é editado pelo jornalista Rui Martins.
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