Labirinto cafona e sem saída

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Publicado quarta-feira, 10 de março de 2004 as 10:06, por: CdB

Começou a ser exibido, finalmente, nos cinemas o documentário de Silvio Tendler sobre Glauber Rocha, Glauber – O Filme, Labirinto do Brasil. O finalmente é por duas razões: uma porque o filme envolveu negociações que duraram mais de duas décadas, outra porque já foram feitas exibições e estréias da fita desde 2002. A coluna compareceu no “lançamento” do documentário no segundo semestre de 2002, no Museu da República. Na platéia dona Lúcia Rocha (mãe de Glauber), Norma Bengell, entre outros. Tendler dedicou a exibição e o filme a David Neves, Joaquim Pedro e Leon Hirszman, nomes já falecidos do Cinema Novo e do culto glauberiano; secundários na tríade do título: Glauber, filme, Brasil, que reúne o cineasta à arte e a pátria, sugerindo sua unanimidade internacional no cinema brasileiro.  
 
Os depoimentos e imagens de Glauber – O Filme são articulados em torno da seqüência do funeral do cineasta, filmado por Tendler e pelo fotógrafo Walter Carvalho. A idéia de Tendler (baseado em depoimento de um membro da produção do filme, que prefere ficar anônimo): já que Glauber foi “canonizado” e transformado no maior nome do cinema brasileiro, Tendler seria sua renovação. Um filmou o enterro de Di Cavalcanti (Di, curta metragem), o outro usaria a mesma idéia filmando o polêmico cineasta. Tendler ainda chegou a admitir que se tivesse feito o filme há vinte anos, teria feito igual ao Di.
 
Mas o inferno está cheio de boas intenções. Tendler não tem a argúcia de Glauber e fez um documentário cafona (as seqüências do labirinto, feitas por computador, são horripilantes, completamente anti-Glauber). A única motivação para assistir a Glauber – O Filme, Labirinto do Brasil, é de ordem extra-fílmica. Vem da observância do culto em torno de Glauber Rocha, um ícone fabricado para o consumo elitista, exatamente o contrário da proposta (furada) cinemanovista.