Está no ar a Campanha do Pacto MTV sobre as eleições: prepare ovos, tomates e, principalmente, a pontaria. A pontaria da Campanha atinge os políticos em geral: do governo e da oposição. Esta crítica generalizada seria para induzir o voto nulo? Mas, que segmento da juventude se deixaria induzir? Quais deles compartilhariam dos pressupostos da Campanha? Afinal qual seria o público alvo da Campanha? Estes são alguns pontos que estão suscitando um instigante debate na própria imprensa e entre grupos de jovens. O que deve ser muito bom para os objetivos publicitários da MTV. O que também pode ser muito bom para a reflexão sobre a diversidade da juventude atual e sobre a chamada "linguagem jovem". Vamos por partes.
Um dos detonadores do debate foi uma carta à imprensa. E esta carta tem uma história. A Campanha Ovos e Tomates esteve na pauta, em julho, na última reunião do Conselho Nacional de Juventude (Conjuve), composto por 20 membros do poder público e outros 40 da sociedade civil. Depois de ouvir as opiniões de muitos dos presentes, o Conselho resolveu não formalizar nenhuma apreciação sobre a Campanha. Naquele momento, valeu o argumento da cautela. Sendo o Conselho um órgão de Estado, ligado à Secretaria Nacional de Juventude, que faz parte da Secretaria-Geral da Presidência da República, qualquer apreciação poderia ser lida como algum tipo de censura ou, até mesmo, entendida como expressão de interesse eleitoral imediato.
Contudo, os conselheiros da sociedade civil presentes na reunião acharam por bem fazer uma carta à MTV e à imprensa. Nesta carta não há nenhuma afirmação que a Campanha da MTV seja um libelo ao voto nulo. Nela não há nenhum pedido para que a Campanha seja tirada do ar. Ao contrário, reconhece-se que a emissora pode tratar o tema como bem quiser e, para tanto, usar recursos publicitários que desejar. Os signatários apenas manifestam a preocupação com a veemência da mensagem veiculada, que condena, a priori, o processo eleitoral. Ao mesmo tempo, solicita-se que o tema "juventude e eleições" entre para valer - com toda sua controvertida riqueza - nas pautas dos meios de comunicação que têm uma função pública a cumprir.
Claro que a referida carta só foi divulgada na íntegra nos sites de organizações não-governamentais (ONGs) ou de grupos políticos. Com os cuidados com que foi escrita, ficou muito extensa e pouco espetacular para ser divulgada na íntegra pela grande imprensa. Mas, foi bastante citada. Algumas matérias jornalísticas compreenderam bem seu objetivo e entraram no debate trazendo novos pontos de vista. Mas, também houve outras reações que, fragmentando a "Carta do Conselho", revelaram vários (pre) conceitos vigentes sobre os espaços de participação dos jovens de hoje. Assim sendo, das entrelinhas surgiram veredictos contra a iniciativa. Assinada pelo movimento estudantil, pela UNE, a carta só poderia ser autoritária ou, no mínimo, paranóica? Assinada por ONGs, expressaria a chatice das "campanhas cidadãs" em oposição à sofisticação publicitária da MTV - reconhecido laboratório da linguagem televisiva jovem? Os signatários são conservadores, se não fossem como poderiam criticar a MTV que em sua programação tanto tem contribuído para derrubar tabus morais e preconceitos raciais? Tais questões não são banais, é verdade. Mas, para debatê-las, é preciso ultrapassar nosso estoque corrente de classificações e adjetivos. É preciso conhecer mais o que se passa com a "juventude de hoje" e, se possível, se deixar surpreender.
Enquanto projetamos sobre a juventude o desencanto com as eleições atuais, presente em uma parcela da sociedade brasileira, as informações sobre o alistamento eleitoral, divulgadas recentemente pelo TSE mostram um aumento de 39%, em relação a 2002, do número de eleitores de 16 e 17 anos, faixa etária em que o voto é facultativo. Foi nesta faixa etária o maior crescimento proporcional de eleitores. Certamente estes números não falam por s
Juventude e eleições: para além dos ovos e tomates
Arquivado em:
Domingo, 17 de Setembro de 2006 às 09:36, por: CdB