O juiz britânico James Hutton, responsável pela investigação sobre a morte do cientista David Kelly, convocou para depor na próxima semana o repórter da BBC Andrew Gilligan e um amigo do ex-funcionário do Ministério da Defesa, segundo informações divulgadas nesta sexta-feira.
Hutton tornou pública a lista de testemunhas que devem ser interrogadas nos próximos dias, e em primeiro lugar está Terence Taylor, do Instituto de Estudos Estratégicos de Washington (EUA), colega e amigo do cientista falecido.
Segundo a imprensa britânica, possivelmente o magistrado irá perguntar a Taylor, na próxima segunda-feira, o que Kelly sabia sobre o Iraque, já que havia trabalhado como inspetor de armas das Nações Unidas nesse país.
David Kelly, de 59 anos, casado e pai de três filhas, foi enterrado na quinta-feira no cemitério da igreja de Saint Mary de Longworth, próxima a sua casa em Southmoor, na região de Oxfordshire (sul da Inglaterra).
Este cemitério não fica distante do local onde, no dia 18 de julho passado, foi encontrado o cadáver de Kelly, que estava com as veias do pulso esquerdo cortadas, indicando um aparente suicídio.
Kelly foi a fonte da rede pública britânica BBC numa notícia divulgada em maio passado pelo jornalista Andrew Gilligan que acusava o Executivo de ter exagerado a informação sobre as supostas armas de destruição em massa do Iraque para justificar a guerra.
Quando o nome de Kelly se tornou público, o britânico se viu no centro de um confronto entre o governo e a BBC, o que, segundo sua esposa, Janice, tornou sua vida "insuportável".
O juiz Hutton investiga desde o dia 1º de agosto as circunstâncias desta morte e mais adiante convocará para depor membros do Governo britânico, inclusive o primeiro-ministro Tony Blair, que se encontra de férias em Barbados, e seu ministro da Defesa, Geoff Hoon.
— Quero perguntar a eles sobre seu conhecimento das discussões que ocorreram e as decisões tomadas em relação ao doutor Kelly — adiantou Hutton há uma semana, quando explicou os detalhes de sua investigação.
Após Taylor, na terça-feira será interrogado Gilligan, o repórter da Rádio 4 da BBC, responsável pela notícia divulgada no programa Today que deu início a esta controvérsia.
O repórter argumenta que o cientista lhe disse que o governo tinha exagerado os dados sobre o Iraque, afirmação que foi negada oficialmente diante da comissão parlamentar que averigua as decisões do Executivo durante a crise iraquiana.
Segundo afirmou o juiz em 1º de agosto, ele terá que responder sobre sua conversação com David Kelly em um hotel de Londres e sobre a preparação da notícia que foi transmitida em 29 de maio.
Os repórteres da BBC Susan Watts, do prestigioso programa da BBC2 Newsnight, e Gavin Hewitt, que falaram também com Kelly, prestarão declaração ao longo da semana, assim como o diretor de noticiários, Richard Sambrook.
Também na próxima semana o magistrado interrogará Richard Hatfield, diretor de pessoal do Ministério da Defesa e chefe direto do cientista. Mais adiante, Hutton chamará os principais diretores da emissora pública, como o presidente, Gavyn Davies, para averiguar o grau de controle que exerceram sobre a informação.
Por outra parte, comparecerão no Tribunal Superior de Londres, onde se realiza a investigação, que não será transmitida pela televisão, o chefe de Comunicação de Tony Blair, Alastair Campbell, e a viúva e "uma ou mais filhas" do cientista falecido.
O magistrado declarou em sua apresentação da convocação que as testemunhas não prestarão juramento e que ele não tem poder legal para exigir o comparecimento de todos. No entanto, a maioria deles, inclusive Blair e Hoon, já anunciaram publicamente sua vontade de colaborar em tudo o que for necessário.