Cerca de 2 mil policiais iraquianos atenderam nesta segunda-feira à convocação das forças anglo-americana para participar do policiamento conjunto na capital do país, Bagdá. As rondas devem começar nos próximos dias, para combater os saques generalizados que vêm acontecendo desde o enfraquecimento da administração de Saddam Hussein. Apesar de a tranqüilidade ter voltado a algumas áreas da cidade, pilhagens e tiroteios persistem em outros locais. Revoltados com a falta de segurança, dezenas de manifestantes iraquianos se reuniram nesta segunda-feira em frente ao hotel Palestina - onde está concentrada a maior parte da imprensa estrangeira - para protestar contra a presença americana em Bagdá. 'Colonização' Um dos manifestantes, Sabah Mahmud, criticou a ofensiva: "Isso é pura colonização. Onde está a liberdade? Não temos água nem eletricidade", disse Mahmud. Na manhã desta segunda-feira, homens uniformizados e à paisana se reuniram na Escola Nacional de Polícia atendendo ao chamado divulgado na rádio e televisão iraquianas pelos americanos. Em Basra, no sul do país, a polícia local já está trabalhando ao lado das tropas britânicas para reestabelecer a ordem pública. O correspondente da BBC em Bagdá, Richard Galpin, disse que os fuzileiros navais que organizam o recrutamento foram surpreendidos pela grande procura. "Eles fizeram longas listas de nomes e afirmaram ser possível que as primeiras patrulhas conjuntas comecem já na segunda ou na terça-feira", disse Galpin. Apesar de 2 mil voluntários terem se apresentado, a força policial ainda será consideravelmente menor do que a equipe de 40 mil homens que estava à disposição do governo antes da guerra. A polícia iraquiana será autorizada a portar armas. 'Braços abertos' Ala Mahdi, um policial iraquiano graduado, disse que espera ser recebido de braços abertos pelo povo do Iraque. "A polícia iraquiana pode fazer o seu serviço melhor que qualquer outra pessoa, porque a sua tarefa era simplesmente lidar com crimes", explicou Mahdi. No entanto, a volta dos policiais e funcionários públicos ao serviço também despertou temores de que integrantes do antigo regime possam estar voltando ao poder. "São sempre as mesmas pessoas", disse Ahmad Kadhem, um morador de Bagdá de 23 anos que se alistou em um dos pontos de recrutamento. "Eu vim aqui me oferecer para proteger os prédios estatais, mas encontrei os mesmos integrantes do partido Baath que nos torturavam há apenas alguns dias", disse Kadhem. Os fuzileiros americanos dizem estar verificando os registros dos oficiais mais graduados antes de aceitá-los, mas o analista de defesa da BBC, Paul Adams, afirmou que o emprego de pessoas que tinham associação com o regime de Saddam é praticamente impossível. "Todo iraquiano precisava ser filiado ao partido Baath, se quisesse subir na vida. Você precisava dessa filiação até para conseguir uma vaga para os seus filhos na escola", disse Adams. "Por isso, tecnicamente serão usadas pessoas do antigo regime, mas elas não são, necessariamente, vilãs", completou.
Iraquianos se oferecem para policiar Bagdá
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Segunda, 14 de Abril de 2003 às 08:40, por: CdB