Rio de Janeiro, 22 de Dezembro de 2024

Iraquianos são acusados de pertencerem à resistência para saldar contas pessoais

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Sábado, 13 de Dezembro de 2003 às 12:24, por: CdB

As detenções feitas pelas forças de ocupação do Iraque provocam protestos entre setores da população do país e afirmam que alguns iraquianos acusam outros de pertencerem à resistência para saldar contas pessoais.

- Não vejo meus três irmãos há mais de um mês quando foram detidos por soldados americanos - diz Isra Yehya Ubaiyin, de 27 anos, e habitante de Bagdá.

Seus três irmãos, Muhamad, Saed e Ualid, foram detidos no mesmo dia, 11 de novembro, mas até o momento as autoridades militares americanas não informaram a Isra sobre seu paradeiro.

- Não sabemos nada sobre eles desde que foram detidos, os três no mesmo dia mas cada um em um lugar diferente - declara.

Um foi detido em sua residência, no bairro de Adhamiya, outro, operador de um reboque-gerador, em seu trabalho, e o último, quando foi ao quartel americano, situado em um antigo palácio de Saddam Hussein nesse bairro, para saber de seus irmãos.

Isra afirma, com as duas filhas de seu irmão Muhamad, uma de cada lado, que se trata de um ato de vingança de um homem chamado Muhamad Saddam.

Aparentemente Muhamad Saddam, um policial iraquiano, quis se casar com Ashuaq, de 35 anos e irmã de Isra, mas foi rejeitado pela família.

Desde então, ainda durante o regime de Saddam Hussein, as tensões entre Muhamad Saddam e a família de Ubaiyin aumentaram.

- Muhamad Saddam, membro das antigas forças de segurança de Saddam Hussein, acusou meus três irmãos de serem membros da resistência iraquiana contra a ocupação americana - disse Isra.

As duas irmãs estavam nesta sexta em uma manifestação que teve a participação de cem pessoas diante da sede da Autoridade Provisória da Coalizão (APC) e na qual protestavam contra as detenções arbitrárias e sem acusações.

- Nossos irmãos é que nos sustentavam, sem eles estamos perdidas - conclui Isra.

O Exército americano executa operações de busca diárias, muitas vezes detenções em massa, atrás de membros da resistência iraquiana.

As autoridades americanas são criticadas pela falta de clareza em relação às detenções no Iraque, em particular pela falta de mecanismos para veicular informações sobre os detidos.

O chefe das forças de terra dos Estados Unidos no Iraque, o tenente-general Ricardo Sánchez afirmou neste sábado que as forças de ocupação no Iraque respeitam o direito internacional em relação à população sob seu controle.

Em particular, Sánchez afirmou que as forças da coalizão no Iraque fazem tudo o que podem para garantir que os detidos possam receber visitas de seus familiares, ou pelo menos que os últimos recebam informações sobre onde estão cativos.

Além disso, continuam as visitas às prisões dos membros de Comitê Internacional da Cruz Vermelha, uma organização encarregada de supervisionar a aplicação da Quarta Convenção de Genebra.

Neste momento cerca de 10.000 pessoas estavam em centros de detenção americanos no país, entre eles cerca de 3.800 milicianos do grupo Mujahedin Jalq.

O Mujahedin Jalq, uma milícia da oposição iraniana que Saddam Hussein utilizava para atacar o Irã, é considerado pelos EUA uma organização terrorista, e o Conselho do Governo do Iraque decidiu realizar a expulsão do Iraque de todos os seus membros antes do final do ano.

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