Mais de 100 pessoas morreram nesta terça-feira em vários ataques coordenados no Iraque. O dia é o mais sangrento desde que Saddam Hussein caiu, em abril do ano passado.
As mortes acontecem em meio a um período sagrado para os xiitas, que são 60% da população. Eles relembram a Ashura, o 10º dia do mês muçulmano de Muharram, quando de acordo com a tradição, o imã Hussein, neto do profeta Maomé, foi morto em uma batalha há mais de 13 séculos.
Até agora não há informações precisas sobre quem seriam os autores dos
atentados.Depois dos ataque de hoje, podemos dizer que agora, o Iraque enfrenta o pior período desde que os grandes ataques cessaram. A tensão atingiu o nível máximo.
Num enorme balaio de gatos que se transformou o Iraque, podemos identificar vários grupos em que o país está dividido. Primeiro temos as forças da Coalisão anglo-americana, que estão desmoralizadas pela perda do argumento da invasão ao país - até hoje os Governos se rebolam para explicar e justificar a não existência de armas de destruição em massa. Depois vêm os xiitas, maioria da população e oprimida durante o governo de Saddam e que exigem eleições diretas para tomar o poder do país. Em seguida temos os sunitas, minoria que quer voltar ao poder e também os curdos, que já gozavam de certa autonomia quando Saddam estava no poder e devem lutar por ela se alguém resolver mexer com eles.
Para piorar a situação, há os que vivem na margem, os insurgentes do regime de Saddam, podendo ser ou não, os responsáveis por vários dos atentados à bomba. Muitos especialistas apontam a presença de grupos terroristas estrangeiros, como a Al Qaeda, como possíveis autores dos ataques suicidas pois essa não é uma característica de combate dos grupos iraquianos.A verdade é que a situação fugiu ao controle e George Bush está vendo que pode invadir o Iraque, mas que é impossível controlar o país sem o apoio dos iraquianos.
Para se ter uma idéia do tamanho do problema, o comandante da primeira divisao blindada, responsavel por Bagda, o general Martin Dempsey havia declarado que as tropas dos EUA estavam preparadas para entregar a segurança da cidade às novas forcas iraquianas. A divisao tinha 60 bases no ano passado, agora tem 26 e planeja manter apenas 8 até maio. Contudo, a administração de Paul Bremer está com sérios problemas. Os policiais e soldados iraquianos, preparados pelos americanos não resistem muito. A maioria morre em atentados ou deserta. Dos 694 que fizeram juramento em 4 de outubro, um terço já foi embora.
Por isso, a menos que os Estados Unidos façam como fizeram com o Afeganistão, ao deixar o país sem uma base sólida militar para combater a oposição e hoje o Taleban está tomando controle do país novamente, com excessão de Cabul - é melhor o Pentágono rever seus planos de remoção de tropas do Iraque e Bush terá que segurar por mais tempo a grande batata quente em que o Iraque se transformou.