Rio de Janeiro, 30 de Dezembro de 2024

Investidores percebem que Temer é o sujeito errado no cargo errado

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Quarta, 07 de Dezembro de 2016 às 16:52, por: CdB

Para Temer, no Palácio do Planalto, os sinais de alerta cresceram nas últimas semanas. Os manifestantes contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55, conhecida como a ‘PEC da Morte’, na semana passada, foram dispersos sob bombas de efeito moral e cavalaria

 

Por Redação, com Reuters - de Brasília e São Paulo

No último mês, o presidente de facto, Michel Temer, viu cair um de seus principais ministros e as manifestações ganharem vulto. A economia manteve os sinais ruins e, agora, o presidente do Senado, Renan Calheiros, seu aliado, é afastado da linha sucessória. Renan, politicamente, mostra-se mais efetivo. A ordem foi confirmada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), por 6 votos a 3. Trata-se de um cenário que levanta dúvidas junto aos investidores, interna e externamente, se o governo será capaz de fazer o que prometeu. A promessa era tirar o país da crise econômica, política e, agora, institucional.

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Temer compareceu a uma videoconferência para falar sobre mosquitos apenas, sem respostas à corrupção

No Palácio do Planalto, os sinais de alerta cresceram nas últimas semanas. Os manifestantes contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55, conhecida como a ‘PEC da Morte’, na semana passada, foram dispersos sob bombas de efeito moral e cavalaria. Estavam a apenas algumas centenas de metros do Plenário do Senado.

No último domingo, as manifestações de direita, ainda que menores do que o previsto, miraram no presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL). E bateram na tentativa de dissipação da Operação Lava Jato, contra a qual o líder do Governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR), se insurgiu. As gravações em que ele fala em “conter a Lava Jato” estão anexadas ao processo, na Polícia Federal (PF).

Problemas em série

O alívio veio do fato de o Congresso ter sido o centro das reclamações. Mas assessores presidenciais avaliam que, se a economia não melhorar, a fúria da população pode rapidamente se voltar contra o governo. E os sinais nesse front também não são dos melhores. Assessores próximos do presidente admitem que os problemas se avolumam, mas minimizam a crise, por enquanto.

— O que os empresários querem são sinais de que as coisas estão sendo feitas. Eles não querem outro presidente, querem esse e que ele faça o que diz que vai fazer. Eles sabem que a economia demora a reagir — disse à agência inglesa de notícias Reuters um assessor presidencial, sem ser identificado.

No entanto, a própria equipe econômica admite, internamente, que esperava resultados mais rápidos. No mínimo, uma reação já no primeiro semestre de 2017. A expectativa agora é de alguma evolução apenas no segundo semestre do ano que vem.

Críticos de Temer

As críticas de aliados, passadas como "sugestões" pelo economista Armínio Fraga, ligado ao PSDB, levaram Temer a dar sinais públicos de prestígio ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Entre eles, os elogios feitos na segunda-feira. Ocorreu durante a apresentação do projeto de reforma da Previdência. Soma-se, ainda, a decisão de confirmar Dyogo Oliveira, interino desde junho, como ministro do Planejamento.

— Já temos uma crise de confiança tão grande quanto no governo Dilma. Não dá para enxergar uma estratégia para o país resolver seus problemas — criticou o senador Cristovam Buarque. Trata-se do líder do PPS no Senado, partido com dois ministérios e aliado de primeira hora, desde a deposição da presidenta Dilma Rousseff (PT).

Na semana passada, um grupo de senadores se mobilizou. José Aníbal (PSDB-SP), Ricardo Ferraço (PSDB-ES) e Armando Monteiro (PTB-PE), além de Cristovam — pediram a Temer medidas adicionais para destravar a economia. Falaram também em desburocratizar o crédito e tentar acelerar resultados.

Uma característica de Michel Temer exaltada por seus defensores, também tem sido apontada por seus críticos como um dos problemas do governo. É a "capacidade de diálogo", que o presidente tanto defende e o torna apto a negociar com o Congresso. Mas não faz dele um presidente capaz de soluções inovadoras ou de inspirar o país.

— Temer é um político com perfil de acomodação, não de ideias, de certezas, de liderança forte — diz Rafael Cortez, cientista político da Consultoria Tendências. O ministro do governo José Sarney, na Fazenda, Maílson da Nóbrega integrou esta empresa até o ano passado.

Sinal de alarme

O afastamento de Renan Calheiros, seguido da decisão da Mesa do Senado de não aceitar a liminar concedida pelo ministro Marco Aurélio Mello, alarmou o Palácio do Planalto. Foi este mais um capítulo em uma série de crises que o governo não tem conseguido administrar.

Mesmo problemático, Renan é um aliado do governo e garantia a pauta que interessa ao governo. Sua saída, confirmada pelo plenário do Supremo, e a suspensão da sessão do Senado desta terça-feira, colocam em risco a votação do segundo turno da PEC do teto de gastos. A próxima foi marcada para o próximo dia 13, o que se torna ruim para os interesses do mercado financeiro, tanto na Wall quanto na Main Street.

— A crise é muito maior do que um atrito entre o Legislativo e o Judiciário. Esse é só o conflito do dia. Talvez a gente tenha dado um passo à frente na direção do conflito maior, que tem como consequência a paralisia — afirmou o cientista político Carlos Melo, ouvido pela Reuters.

Temer afirmou, na véspera, que é preciso "serenidade e paciência" para fazer o ajuste fiscal. Os brasileiros, no entanto, já demonstram impaciência com a falta de resultados. Na semana passada, os indicadores mostraram que o Produto Interno Bruto (PIB) caiu pelo sétimo trimestre consecutivo. Acompanhado pelas quedas de investimentos e de consumo.

FMI virou tabu

As apostas do governo — teto de gastos para a União e a reforma da Previdência — mesmo que sejam rapidamente aprovadas, são medidas de médio e longo prazos. Dificilmente trarão resultados para o próximo ano, no qual o governo ainda trabalha com um déficit de R$ 139 bilhões.

— Temos uma terrível crise fiscal à frente e o governo apenas têm pensado em medidas de médio e longo prazos — afirmou Monica de Bolle, economista brasileira do Instituto Peterson de Economia Internacional, aos repórteres da agência internacional Lisandra Paraguassu e Paulo Prada.

Monica sugere que o país volte a apelar para o Fundo Monetário Internacional (FMI), um tema quase tabu no país.

— O governo vai precisar de dinheiro e não tem sentido apenas sentar e esperar — disse.

A soma de problemas políticos, econômicos e institucionais — sem falar nos legais, com uma super delação da empreiteira Odebrecht ameaçando atingir boa parte do governo e do Congresso — minam ainda mais a confiança dos capitalistas.

Irmãos Coch

O Eurasia Group, consultoria política de risco, aumentou para 20% o risco de que Temer não conclua seu mandato. Citou o crescimento da insatisfação popular e o risco das investigações atingirem o próprio presidente.

Depois de já ter passado por um impeachment traumático, não são muitos os brasileiros ansiosos por outra interrupção no governo. Principalmente aqueles que, financiados por recursos externos, ajudaram a aprofundar a crise política no país. De braços dados com a mídia conservadora, marcharam pelas ruas do país na campanha: “Fora, Dilma!”.

— Temos que esperar que melhore. Nós precisamos de desenvolvimento econômico, uma política melhor e precisamos sair desse impasse — afirmou Rogério Chequer. Trata-se de um dos líderes do movimento Vem pra Rua. Este e o Movimento Brasil Livre (MBL) receberam, nos últimos meses, recursos originários de fundos mantidos por multibilionários norte-americanos. De extrema direita, os irmãos Coch, segundo denúncia do site norte-americano The Real News Network, subsidiam as organizações neofascistas no país.

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