Existem pelo menos duas polêmicas que envolvem as indenizações pagas pelo governo brasileiro às pessoas e famílias prejudicadas de alguma forma pela ditadura militar: os valores pagos às vítimas e a decisão de aceitar ou não a indenização. O debate voltou à tona por conta do julgamento de oito pessoas pela Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos do Ministério da Justiça. Nesta quarta-feira (01), a Comissão considerou o Estado responsável pela morte de cinco dessas pessoas, mas negou o envolvimento nas outras três.
Uma das polêmicas se refere às indenizações pagas pela Comissão de Anistia, instalada em 2001 e que funciona de forma paralela à Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos. Quando foi criada, a Comissão de Anistia estimava receber cerca de 40 mil requerimentos, mas em novembro de 2002, uma lei (10.559) garantiu a reparação por prejuízos físicos e morais a todos os perseguidos durante a ditadura, o que aumentou essa projeção.
Entre esses casos está o do escritor e jornalista Carlos Heitor Cony. Perseguido durante o regime militar, Cony teve de se demitir do jornal Correio da Manhã, do Rio de Janeiro. Seu requerimento à Comissão lhe rendeu uma indenização de R$ 1,4 milhão e uma pensão mensal de R$ 19.115 - teto do funcionalismo público (na verdade, sua pensão seria de R$ 24 mil). A indenização, segundo a legislação que a regulamenta, pode ser paga por uma "prestação única correspondente a 30 salários mínimos por ano de perseguição política até o limite de 100 mil reais, ou prestação mensal que corresponderá ao posto, cargo, graduação ou emprego que o anistiando ocuparia se na ativa estivesse".
A diferença entre as indenizações pagas aos anistiados e aquelas pagas aos familiares de pessoas mortas ou desparecidas durante o regime militar também gera polêmica. Enquanto a indenização aos familiares dos mortos chega no máximo a R$ 150 mil, os valores recebidos pelos anistiados podem ser mais altos.
Outro debate trata da decisão de não aceitar as indenizações. Anita Leocádia Prestes, filha de Olga Benário e Luiz Carlos Prestes, por exemplo, recorreu ao benefício para pessoas anistiadas por causa da contagem por tempo de serviço que a ajudaria a pedir aposentadoria. Anita recusou, no entanto, outros R$ 100 mil. "Quando assumi determinadas posições políticas, sabia das conseqüências. Isso não se paga com dinheiro, pelo menos no meu caso", afirmou quando soube da decisão da Justiça.
Indenizações aos prejudicados pela ditadura geram polêmica
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Quarta, 01 de Dezembro de 2004 às 17:03, por: CdB