A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central nesta quarta-feira pode marcar a primeira elevação da taxa básica de juros desde fevereiro de 2003, na opinião de economistas. Especialistas ouvidos pela BBC Brasil acreditam que é grande a probabilidade de elevação da taxa.
- Vejo como quase inevitável a elevação. As reações recentes de alguns membros do governo em relação à possibilidade de elevação, por conta dos critérios de construção de credibilidade sob os quais trabalha o Copom, acabam quase obrigando-os a aumentar. Se não, isso é visto como uma capitulação diante das pressões políticas - avalia o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Universidade de Campinas (Unicamp).
O impacto de uma aumento dos juros divide os especialistas. Alguns entendem que o impacto na economia seria pequeno, mas outros alertam que a possível decisão teria um alto custo para a dívida pública.
Se os juros subirem dos atuais 16% para 16,5%, "o impacto na dívida pública atrelada à Selic - taxa básica de juros - seria de R$ 4,5 bilhões a R$ 5 bilhões", afirma Belluzzo.
Para ele, a alta seria um equívoco. Dos quatro economistas entrevistados pela BBC Brasil, ele é o único que entende que uma elevação teria efeitos negativos nas expectativas de consumo e investimento.
Já para o economista-chefe do banco de investimentos West LB em São Paulo, Adauto Lima, um aumento moderado seria a decisão mais adequada para o momento. Ele acredita que a taxa subirá para 16,25%, voltando aos patamares de março deste ano.
- Um aumento (de 0,25 ponto percentual) não é tão significativo a ponto de frear decisões de consumo e investimentos - avalia Lima.
Em relação à dívida pública, sua opinião também é oposta à de Belluzzo. Segundo Lima, um eventual aumento de juros reduziria a velocidade, mas não reverteria a tendência de redução da dívida.
- Há outras variáveis importantes. O estoque nominal, em reais, da dívida aumenta, mas, proporcionalmente ao PIB (Produto Interno Bruto), isso não necessariamente acontecerá - afirma o economista, acrescentando que uma alteração de juros demoraria de seis meses a nove meses para fazer efeito e visaria a assegurar o cumprimento da meta de inflação de 2005.
O IPCA, índice utilizado pelo governo nas metas inflacionárias, recuou para 0,69% em agosto, depois de chegar a 0,91%, em julho, mas ainda é considerado alto.
De janeiro a agosto, a inflação oficial acumulada foi de 5,14%, praticamente atingindo a meta para todo o ano, de 5,5%. A preocupação com a alta vem sendo refletida nas atas das últimas reuniões do Copom.