O Brasil tem hoje condições muito mais sólidas do que no passado recente para enfrentar a situação mundial, que hoje apresenta um quadro benigno, porque a maior parte dos países vem crescendo. A avaliação é do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Ele lembrou que as exportações brasileiras estão em alta e mostram uma diversificação de destino e de produtos; a produção industrial cresce, assim como a massa salarial, e o número de empregos formais se mantém constante desde o ano passado.
Para Meirelles, a posição dos países emergentes hoje é diferente daquela de anos atrás, quando os países emergentes tinham sistemas de câmbio controlados, com menos capacidade de absorver a volatilidade (oscilação) dos fluxos de capitais. A possibilidade da alta de preços do petróleo no mercado internacional vir a afetar a inflação e prejudicar o crescimento econômico brasileiro vai depender da política de preços da Petrobras. Em outros países emergentes, esse fator terá efeito variável, podendo impactar no crescimento de alguns deles, observou. Meirelles insistiu que, no caso do Brasil, isso vai depender muito da duração do fenômeno e da política da Petrobras. O presidente do BC considerou prematuro afirmar que a alta do dólar terá repercussão sobre a inflação.
Do mesmo modo, as reservas, particularmente da Ásia, eram muito menores do que hoje, o que desencadeou uma série de problemas financeiros e de ajustes em diversos países emergentes a partir de 1995, explicou.
Hoje, a situação é completamente diferente.O câmbio flutuante foi adotado em quase todos os países em desenvolvimento, que apresentam uma situação fiscal mais sólida, sobretudo o Brasil, bem como de reservas. Meirelles destacou que no Brasil, os fundamentos da economia são muito mais fortes. "Pela primeira vez em décadas, o Brasil é capaz de crescer e está crescendo, ao mesmo tempo em que aumenta as exportações e mostra saldo comercial recorde histórico e saldo de conta corrente", disse.
Ele definiu esse processo como uma mudança estrutural da economia brasileira. "O Brasil, no passado, tinha uma dicotomia e muitas vezes, quando começava a crescer, mostrava déficits crescentes de conta corrente", disse. Segundo ele, no final da década de 90, o déficit chegou a mais de US$ 30 bilhões, e hoje é algo superado. Meirelles lembrou que a dívida interna indexada ao dólar, que chegou a mais de 40% da dívida total, teve uma queda nessa relação para 17%.
Segundo Meirelles, todos os indicadores mostram que a economia brasileira está em recuperação, com dinâmica mais sólida da dívida interna e uma dinâmica exportadora forte. Para ele, esses fatores reforçam as condições mais sólidas do país para enfrentar a situação mundial e a tendência é positiva a médio e longo prazos. "O Brasil hoje se encontra em condições sem precedentes na sua história recente para se adaptar a novos patamares do mercado e continuar a crescer", garantiu.
O presidente do BC reconheceu que não há uma evolução linear em função das condições dos mercados nacional e internacional, mas destacou que o Brasil está na direção correta. Meirelles participou na Associação Comercial do Rio de Janeiro da cerimônia de posse do presidente da Associação e Sindicato dos Bancos do Estado do Rio(ABERJ/SBERJ), Carlos Alberto Vieira.