Rio de Janeiro, 21 de Dezembro de 2024

Igreja contesta documentário da BBC sobre atuação de Bento XVI

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Segunda, 02 de Outubro de 2006 às 10:19, por: CdB

O arcebispo de Birmingham, reverendo Vincent Nichols, contestou neste domingo o documentário da BBC Sexo, Crimes e o Vaticano e acusou o programa de lançar "um ataque profundamente preconceituoso" contra o papa Bento XVI. O documentário, exibido na televisão aberta britânica neste domingo, afirmou que o papa Bento XVI desempenhou um papel de peso na ocultação sistemática de casos de abusos sexuais contra menores cometidos por padres católicos.

Nichols disse que o programa foi "falso" e "totalmente enganador" porque interpretou de forma errada dois documentos do Vaticano e utilizou imagens antigas e entrevistas sem data. O cardeal Cormac Murphy-O'Connor escreveu ao diretor-geral da BBC, Mark Thompson, para reclamar do programa. A BBC reafirmou o seu apoio ao documentário e disse que qualquer reclamação será tratada através dos procedimentos existentes dentro da empresa para isso.

A reportagem do programa examinou um documento secreto interno da Igreja, que instrui bispos sobre como lidar com acusações de abusos sexuais cometidos por padres em suas paróquias. O trabalho de reportagem foi realizado por Colm O'Gorman - que sofreu abusos por um padre católico aos 14 anos na Irlanda - especialmente para o programa Panorama.

O'Gorman foi a Irlanda, Estados Unidos, Itália e Brasil, onde ouviu vítimas e ex-integrantes da Igreja que confirmaram a política usada pelo Vaticano nesses casos: transferir o padre acusado de abuso de uma paróquia para outra.

Em Goiás

No Brasil, O'Gorman se encontrou com Elza da Silva, avó de um garoto que sofreu abuso sexual aos 5 anos de idade na cidade de Anápolis, Goiás. Ela contou que descobriu o abuso depois que o garoto disse que "sabia como fazer amor". Segundo Elza, a família tinha permitido que o padre ensinasse violão ao garoto. De acordo com a reportagem, o padre Tarcício Tadeu Sprícigo foi transferido de uma cidade para outra quatro vezes. O bispo responsável pelo envio do padre Tarcísio a Anápolis há 6 anos sabia, segundo O'Gorman, que ele havia sido acusado de molestar um garoto de 13 anos em São Paulo em 1991.

Elza diz que foi pressionada pela Igreja e pela comunidade a deixar a história de lado. Depois de 10 anos de abuso, o padre Tarcísio foi condenado a 15 anos de prisão no ano passado. Em um diário, ele escreveu como escolhia suas vítimas. "Idade, 7, 8, 9, 10 anos. Sexo, masculino. Classe social, pobre. De preferência, um filho que não tenha pai, que viva só com a mãe ou uma irmã".

O padre diz ainda no diário que se aproximava dos garotos ficando amigo da família e oferecendo aulas de violão. O'Gorman questiona como é possível que o caso brasileiro tenha acontecido em 2002, na mesma época em que alegações vieram à tona nos Estados Unidos e depois que o então cardeal Joseph Ratzinger instruiu todos os bispos a enviar casos do tipo diretamente ao Vaticano.

Colm O'Gorman chorou ao dizer que a Igreja não forneceu ao menino - chamado de "mulherzinha do padre" pelos colegas de escola - nenhum tipo de apoio psicológico.

Recomendação

O documento Crimen Solliciatonis (latim para Crime da Solicitação) foi escrito em 1962 em latim e dstribuído a bispos do mundo inteiro, com a recomendação de que fosse guardado a sete chaves. Poucas pessoas de fora da Igreja tiveram acesso a este documento. O texto impõe um juramento, em que a vítima, o acusado e eventuais testemunhas se comprometem a manter sigilo absoluto sobre o caso.

Durante mais de 20 anos, o homem encarregado de zelar pela obediência aos termos do documento foi o cardeal Joseph Ratzinger - antes de virar papa. O programa descobriu sete padres acusados de abusos contra menores vivendo no Vaticano ou em seus arredores. Um deles, o padre Joseph Henn, foi indiciado em um tribunal nos Estados Unidos por 13 acusações de abuso de menores.

Durante as filmagens, O'Gorman descobriu que o padre Henn respondia aos pedidos de extr

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