O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis convidou especialistas em falcoaria - a arte milenar de treinar falcões - para criar um sistema de prevenção de acidentes aéreos nos aeroportos brasileiros. Os falcões impediriam que urubus e outras aves que rondam os aeroportos, ameaçando pousos e decolagens, ficassem nas proximidades dos aviões. Para regulamentar a atividade, o Ibama promoveu até um encontro, encerrado nesta quinta-feira, e chegou a uma proposta de Instrução Normativa que será analisada pela Procuradoria Jurídica do instituto. "A legislação permite a falcoaria. O que nos interessa agora é que a atividade ocorra dentro dos critérios científicos, éticos e ambientais", explicou José de Anchieta dos Santos, diretor de Fauna e Recursos Pesqueiros do Ibama. De acordo com o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aéreos/Departamento de Aviação Civil/Aeronáutica, as colisões de aves com aeronaves próximo aos aeroportos aumenta anualmente. De 250 casos registrados em 1999, o número de colisões saltou para 310 em 2000. Uma ave de aproximadamente um quilo e meio contra uma aeronave a 600 quilômetros por hora gera um impacto de cerca de cinco toneladas. A colisão pode provocar até mesmo a queda da aeronave. Nos Estados Unidos, durante um período de 10 anos, foram registradas 2.816 colisões que causaram a morte de nove pilotos, a destruição de 16 aviões e prejuízos de US$ 76 milhões. Atualmente, a falcoaria faz parte das estratégias de segurança aérea no aeroporto JKF, em Nova York, e em outros aeroportos norte-americanos e também europeus. A simples presença de falcões em uma região basta para afugentar as aves indesejadas, pois são predadores naturais e ameaçam as demais. A prática da falcoaria pressupõe aves treinadas para as finalidades específicas e treinadores falcoeiros gabaritados, conforme determinará a legislação que regulamentará o assunto. O treinamento do pessoal exigirá o estabelecimento de escolas de falcoaria. O adestramento das aves de rapina requer um longo trabalho feito por falcoeiros especializados. No Brasil, alguns pesquisadores se dedicam à falcoaria e ao estudo das espécies mais propícias, conforme cada região do país. "São 64 espécies no país e isso representa um grande potencial para a atividade", informou Leo Fukui, presidente da Associação de Falcoeiros e Preservação de Aves de Rapina. Somente espécies brasileiras deverão ser usadas na falcoaria praticada em território nacional. Os Falconiformes, como são chamadas as aves de rapina, são predadores naturais de aves e roedores, que podem representar perigos à saúde humana (ratos, pombos, etc) ou ameaças ao meio ambiente (espécies invasoras ou exóticas, a exemplo do que ocorre com os pardais no arquipélago de Fernando de Noronha, introduzidos indevidamente no local). Falcões, portanto, também podem ser aliados no controle de pragas urbanas e rurais. A regulamentação do uso de falconiformes para controle de fauna proposta pelo Ibama também deverá incluir o uso de Strigiformes (família das corujas) que têm papel importante no controle de morcegos-vampiros, que freqüentemente se tornam pragas em fazendas e transmitem a raiva animal. Com o surgimento das armas de fogo, a falcoaria, antes usada para a caça, declinou até praticamente desaparecer entre os séculos 16 e 19. Os falcões passaram a ser perseguidos, pois competiam com os caçadores pelas presas.
IBAMA quer usar falcões para evitar acidentes aéreos
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Sábado, 07 de Setembro de 2002 às 14:23, por: CdB