Homens armados invadiram casas e roubaram comidas de haitianos do lado de fora de centros de distribuição de ajuda às vítimas das enchentes no Haiti, enquanto as tropas da Organização das Nações Unidas (ONU) se esforçam para manter a ordem após o caos deixado pela tragédia que pode ter provocado cerca de 2 mil mortes.
Um porta-voz da força de paz da ONU liderada pelo Brasil disse que 140 soldados uruguaios foram enviados para proteger os comboios que carregam comida após eles também terem sido atacados nas proximidades da cidade de Gonaives, que foi devastada pela tempestade tropical Jeanne.
O porta-voz, Toussaint Kongo-Doudou, disse que gangues armadas tentaram tomar a comida diretamente do centro de distribuição montado em Gonaives pelas agências humanitárias, e roubaram o alimento das vítimas quando elas saíam do local.
"As gangues ainda estão em Gonaives, é um fato", disse o porta-voz. "Estamos buscando a melhor maneira de lidar com a situação."
Ele disse não saber de nenhum ferido ou a identidade dos agressores, mas os moradores da cidade portuária de 200 mil habitantes, muitos dos quais estão sem quase nenhuma comida desde domingo, culpam gangues de uma comunidade vizinha.
O secretário-geral da Cruz Vermelha haitiana, Berthony Marlet, declarou que segurança adicional é extremamente necessária. Ele disse ter ouvido crianças chorando e pedindo socorro enquanto as gangues entravam em suas casas para roubar o alimento recém-distribuído.
"Homens armados estão atacando moradores que acabaram de conseguir assistência e agora eles estão atacando os comboios que trazem ajuda. Definitivamente precisamos de mais segurança em terra", disse Marlet.
Kongo-Doudou disse que as agências humanitárias da ONU já entregaram 120 toneladas de alimentos desde que Gonaives e as cidades vizinhas ficaram embaixo d'água e da lama na semana passada.
O número oficial de mortos em decorrência da tempestade tropical Jeanne-- que voltou a ganhar força e se transformou em um Furacão que está a caminho das Bahamas e da Flórida-- está em 1.180 e outras 1.210 pessoas estão desaparecidas, segundo Dieufort Deslorges, representante do escritório de proteção civil do Haiti.
"Consideramos as pessoas mortas quando encontramos os corpos e os enterramos, mas não esperamos que esses que chamamos de desaparecidos reapareçam", disse ele.
Além das gangues, que comandam diversas favelas do Haiti e que lideraram uma revolta que derrubar o ex-presidente Jean-Bertrand Aristide no final de fevereiro, autoridades disseram que as próprias vítimas brigaram entre si pelos alimentos.
Grandes multidões se amontoaram do lado de fora dos centros de distribuição. Famintas e desesperadas, as pessoas pegavam a comida uma das mãos das outras na cidade em que o Haiti declarou, há 200 anos atrás, sua independência da França após uma revolta de escravos.
Fora do centro, Joasil Monfort, de 11 anos de idade, estava sem camisa e sem sapatos, somente com uma bermuda coberta de lama e com os braços cruzados sobre a região do estômago.
"Não vejo minha mãe e irmã. Ninguém me diz onde elas estão", disse o garoto. "Eu ia me afogar. Alguém me pegou e me colocou no telhado", disse.
Ele disse ter comida o alimento que um estranho lhe entregou.
Kongo-Doudou disse que a ONU pedirá aos doadores que enviem mais comida ao país.