Herói, o fascinante épico criado por Zhang Yimou, é tão espetacular e brilhante quanto O Tigre e o Dragão. O longa-metragem, que estréia na sexta-feira, tem tudo para conquistar no Ocidente reconhecimento e admiração comparáveis aos do filme de Ang Lee.
Zhang Yimou, indicado duas vezes ao Oscar por Ju Dou - Amor e Sedução e Lanternas Vermelhas, certamente terá atenção internacional garantida para seu primeiro filme de artes marciais. Herói recebeu uma indicação ao Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro e foi escolhido pela China para ser seu pré-candidato ao Oscar.
Filme de ação e de época, Herói reúne um trabalho fantástico com espadas e um elenco estelar que inclui Jet Li, Maggie Cheung, Tony Leung e Zhang Ziyi, sem falar em uma narrativa poética que provocou polêmica por seu suposto subtexto de propaganda política pró-Pequim.
No século 3 a.C. - um período de grandes transformações na China, como aliás é o momento atual -, três assassinos lendários procuram matar o implacável e tirânico Rei de Qin.
Um dia, um humilde e anônimo xerife rural (Jet Li) chega ao palácio do rei portando provas de que, inacreditavelmente, acabou com os três mestres espadachins.
A pedido do rei, ele relata como se deram as mortes dos três assassinos. Assim tem início uma elegante narrativa em estilo Rashomon, que vai se desenrolando com a ajuda de diferentes esquemas de cores.
Tony Leung e Maggie Cheung, juntos novamente depois de Amor à Flor da Pele, representam dois dos matadores que também foram amantes no passado. Zhang Ziyi é a criada devotada de Leung e nutre sentimentos românticos por ele.
As cenas visualmente belíssimas, de tirar o fôlego, podem ser atribuídas à notável direção de fotografia de Christopher Doyle e também ao esplendor natural das paisagens rurais chinesas.
Fica claro que há uma influência japonesa no estilo formal em que a história é relatada. Isso fica mais evidente nos figurinos criados por Emi Wada (que recebeu um Oscar em 1985 por seu trabalho em Ran, de Kurosawa) e na performance dos tocadores de tambor de Kodo na música composta por Tan Dun.
As comparações com O Tigre e o Dragão são inevitáveis, e seria difícil optar entre os dois filmes wuxia (de artes marciais) em termos de teor emocional, dramático e de ação.
Leung e Cheung têm uma química poderosa, e Jet Li é estoicamente forte. A música melancólica criada por Dun lembra os temas que ele próprio compôs para O Tigre e o Dragão, e O Violino de Itzhak Perlman é um substituto mais do que à altura do violoncelo de Yo-Yo Ma.
Mas é a mensagem de Herói que vem suscitando discussão. Alguns críticos afirmam que o filme é propaganda pró-Pequim, na medida em que apresentaria desculpas para justificar o domínio totalitário de um regime brutal. Compreende-se que isso possa ser altamente controverso, em se tratando de um filme chinês.
Mas essa leitura não condiz com a política cinematográfica de Zhang Yimou. É mais provável que Herói seja uma afirmação emocionante e emocionada de seu país e seu governo, uma parábola conciliatória que oferece redenção e uma opção: guerra e violência ou paz e entendimento.
Nada disso, é claro, terá importância para os fanáticos do kung fu, que estarão salivando diante da perspectiva de ver Jet Li e o astro de ação em ascensão Donnie Yen (Blade II, Bater ou Correr em Londres) se enfrentando com armas.
Como a obra-prima de Ang Lee, o filme de Zhang Yimou atrai tanto ao público do cinema de arte quanto ao de filmes de artes marciais. Filme magnífico e grandioso, Herói não terá dificuldade em sair da sombra de O Tigre e o Dragão para conquistar seus próprios admiradores.
<i>Herói</i> cria épico fascinante sobre artes marciais
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Quinta, 24 de Março de 2005 às 08:34, por: CdB