"Hellboy" é um filme de super-herói como outro qualquer, exceto pelo fato de o roteirista e diretor Guillermo del Toro ter infundido um senso de humor irreverente à história de monstros, possivelmente inspirado pelo próprio criador da HQ "Hellboy", Mike Mignola.
Não se trata do humor amalucado de "Homens de Preto", mas de algo espirituoso e humanizante que faz do personagem-título, representado por Ron Perlman, muito mais do que simplesmente um monstrengo vermelho.
Ainda bem -- porque a história propriamente dita de "Hellboy", que empresta elementos de "Arquivos X", "X-Men", "Guerra nas Estrelas" e o seriado "Beauty and the Beast", estrelado pelo próprio Perlman, não é exatamente original.
Mas, graças à dupla dinâmica formada por Del Toro e Perlman, que já trabalharam juntos em "Blade 2 -- O Caçador de Vampiros" e "Cronos", "Hellboy" deve garantir um sucesso de bilheteria para a Sony.
É até possível que a produção, que teria custado 60 milhões de dólares -- orçamento bastante módico para um filme de super-herói --, vire uma franquia da Revolution Studios. O próprio Del Toro já anunciou que adoraria filmar uma sequência. O filme estréia no Brasil na sexta-feira.
Infelizmente, as lutas entre demônios bons e maus, além do confronto entre o cientista do bem e o charlatão perverso, são elementos que já foram explorados até o cansaço em filmes anteriores.
Basicamente, boa parte de "Hellboy" é uma luta entre um ser que não pode morrer e outro que morre apenas para renascer. E ninguém da equipe criativa do filme parece ter se dado conta de que essa é uma situação estática demais.
Como aconteceu com os combates intermináveis entre Neo (Keanu Reeves) e as centenas de clones do Agente Smith nas sequências de "Matrix", o risco de provocar tédio é grande.
Começando, como "X-Men", na época em que a 2a Guerra Mundial estava chegando ao fim, Hellboy nasce, por assim dizer, quando nazistas desesperados contratam o monge louco e perverso Grigori Rasputin (Karel Roden) para abrir o portal do vazio cósmico, de modo a trazer para a Terra uma criatura que vai causar o Armageddon.
Então, com a intervenção de soldados americanos e a confusão resultante, a criatura em questão, Hellboy, é levada para o lado dos bons -- no caso, o professor Broom (John Hurt), fundador do clandestino Burô de Pesquisas e Defesa Paranormais. Criado pelo professor como seu filho, Hellboy vira lutador do bem.
Hellboy é um gigante vermelho com pele que parece couro e chifres que são cortados diariamente, mais ou menos como um homem normal faz a barba, um punho direito feito de concreto puro e uma cauda exatamente como a do demônio.
Ele mora num apê de solteiro no porão do Burô de Pesquisas Paranormais, onde levanta pesos, devora pizza e cervejas e cria dezenas de gatos. Seu trabalho consiste em caçar monstros, e ele o faz sem maiores dificuldades.
Só existe uma pessoa que consegue surpreendê-lo e deixá-lo confuso: Liz Sherman (Selma Blair), outra figura incomum dotada de habilidades piro-cinéticas.
Hellboy é apaixonado por ela, e, quando um jovem agente do FBI (Rupert Evans) entra para o grupo de humanos comuns que cuidam dos seres excêntricos criados por Broom, Hellboy é consumido por ciúmes da amizade crescente entre ele e Liz.
A trama principal não é terrivelmente interessante. Rasputin volta à Terra (onde será que estava desde 1944?) e chama Hellboy de volta para o lado dos maus.
Ele traz consigo dois seres do mal, Sammael (Brian Steele), um horrendo "senhor da ressurreição" que se recusa a morrer, e Kroenen, antigo ser humano e atual máquina de matar.
Partem em defesa de Hellboy Liz e outro ser excepcional, Abe Sapien (Doug Jones), homem-peixe dotado de intuição quase paranormal.
Os melhores momentos do filme não são as batalhas entre Hellboy e seus inimigos, mas se devem ao comportamento rebelde de Hellboy e seus ciúmes crescentes de Liz e o jovem agente do FBI.