Rio de Janeiro, 21 de Dezembro de 2024

Guaranís ameaçam bloquear fornecimento de gás ao Brasil

Arquivado em:
Segunda, 28 de Agosto de 2006 às 09:17, por: CdB

O fracasso das negociações entre a Assembléia do Povo Guarani (APG) e a empresa de dutos Transierra, cujos acionistas são a Petrobras, Repsol-YPF e Total, na Bolívia, voltou a colocar em risco o abastecimento de gás boliviano ao mercado brasileiro. Comunidades guaranis bolivianas anunciaram, nesta segunda-feira, a volta da ocupação de instalações de gás e petróleo de Chaco para cortar a produção e exportação ao Brasil, em protesto contra as multinacionais.

Segundo o gerente comercial da Transierra, empresa que transporta o gás para o Brasil, Jorge Boland, até o momento não houve interrupção no fornecimento. Ele admitiu no entanto que o risco de corte no transporte do gás ainda existe.

- É possível (interromper), mas desde que eles tomaram a estação no dia 15 eles falam isso...mas não foi interrompido - afirmou o executivo a jornalistas.

Segundo Boland, a reação dos guaranis nesta segunda-feira se deve à negativa formal da Transierra de pagar em uma só parcela o convênio de 9 milhões de dólares previsto para ser desembolsado em 20 anos.

- Pelo acordo vamos investir US4 450 mil por ano em obras, não concordamos com o desembolso imediato de tudo - disse Boland.

Segundo o executivo, uma reunião estava prevista para sexta-feira com os guaranis, mas por questões de segurança não foi relizada.

- Sugerimos a troca de local da reunião para Santa Cruz de La Sierra, mas não tivemos resposta...mandamos então a decisão da Transierra por escrito, mas não recebemos nada deles até agora, só voltaram a ocupar a estação - disse Boland.

Dirigentes guaranis, citados por emissoras de rádio na Bolívia, confirmaram que a decisão foi tomada pelo fracasso das negociações entre a chamada Assembléia do Povo Guarani e a Transierra.

- Hoje estamos entrando nos campos produtores e vamos paralisar toda a atividade petrolífera e suspender as exportações para o Brasil - disse o líder da APG, Wilson Changaray, à rádio Fides.

Não houve um informe imediato do governo sobre a situação na região petrolífera de Chaco, no Sudeste da Bolívia. Segundo Boland, o governo tem total conhecimento da situação mas até o momento não houve envio de tropas policiais ou do exército. Fontes da indústria na Bolívia disseram que a paralisação do bombeamento de gás dessa região afetaria pelo menos 60 por cento das exportações de gás para o Brasil, que estão atualmente em cerca de 26 milhões de metros cúbicos por dia.

Os guaranis não fizeram comentários sobre as exportações para a Argentina, que são de no máximo 7,7 milhões de metros cúbicos diários.

- Não estamos pedindo um aporte econômico das empresas, mas uma compensação por toda a riqueza que extraem de nossas terras e o dano que nos deixam - disse Changaray.

Os indígenas tomaram há 10 dias uma estação de controle de um gasoduto da Transierra que conecta os campos produtores de Chaco com o gasoduto principal Bolívia-Brasil, exigindo a aceleração de um programa de desenvolvimento social que receberia 9 milhões de dólares da empresa.

Os indígenas pediram que esse plano seja executado em quatro anos e não nos 20 inicialmente acertados, proposta que a empresa se comprometeu a responder na sexta-feira passada.

- Nada ficou decidido porque a empresa não foi à reunião da sexta-feira passada, por isso o protesto agora é maior - disse Changaray.

Petrobras, Repsol-YPF e Total, acionistas da Transierra, são as três maiores investidoras na indústria de petróleo e gás da Bolívia. As operações da Transierra não foram afetadas pela nacionalização que atingiu os negócios das três petrolíferas ao declarar propriedade estatal toda a produção nacional de petróleo e gás.

Tags:
Edições digital e impressa
 
 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo