Em virtude do deputado Roberto Jefferson ter dito que não tem provas contra as denúncias que fez do mensalão, o governo usará esta declaração como estratégia para desqualificar as novas acusações de que o dinheiro da "mesada" vinha de estatais e empresas privadas.
Segundo Jefferson, os "operadores" do esquema seriam o publicitário Marcos Valério, amigo do tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e o líder do PP na Câmara dos Deputados, José Janene (PR), com o conhecimento do ministro José Dirceu (Casa Civil). Todos negam as acusações.
Após lerem a segunda entrevista de Jefferson, em que ele faz essas novas acusações, governistas começaram a fazer ligações para jornalistas fazendo essa interpretação.
Vários integrantes do governo foram chamados a Brasília neste fim de semana. Nesta terça-feira, haverá o primeiro depoimento de Jefferson sobre o caso, ao Conselho de Ética da Câmara. Também haverá uma nova reunião da CPI, para escolher presidente e relator.
Desqualificar Jefferson, um "desequilibrado" que estaria falando sem provas documentais, é a parte mais importante da operação governista. Controlar a investigação na CPI dos Correios, enquanto a Polícia Federal faz seu trabalho, é a segunda perna da estratégia.
O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, mais conhecido em Brasília pelo apelido Kakay, foi acionado no sábado para interpretar os novos fatos a partir da entrevista que sairia no dia seguinte ao jornal "Folha de S. Paulo" - a edição dominical fica disponível já na tarde do dia anterior.
Kakay leu com cuidado as respostas de Jefferson e tranqüilizou o ministro Dirceu, a quem é ligado:
- A entrevista é ótima para nós. Ele diz não ter provas, é uma pessoa acusada de corrupção que tenta atacar os outros. É muito frágil.
- A entrevista de Jefferson poderia ter sido escrita por Paulo Coelho (escritor de ficção). Não vi novas revelações na entrevista - declarou Devanir Ribeiro (PT-SP), amigo próximo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
José Genoino, líder do PT, disse que Jefferson é um "poço cheio de ódios" e anunciou que o partido entrará na Justiça contra o parlamentar.
Um dos chamados a Brasília no domingo foi o diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Mauro Marcelo. A Abin está acompanhando as apurações de irregularidades em vários órgãos que poderiam ter servido de origem do dinheiro do "mensalão".