O interesse de liberar a pauta da Câmara dos Deputados pode levar o Palácio do Planalto a desistir de um projeto polêmico: o Conselho Federal de Jornalismo (CFJ).
O governo negocia com o PFL rejeitar a proposta de criação do CFJ em troca de apoio político para melhorar a relação com uma parte da oposição e reiniciar os trabalhos na Casa, praticamente parados há mais de dois meses por conta da obstrução dos partidos de oposição.
A ação é negociada entre o líder do PFL, deputado José Carlos Aleluia (BA), o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP) e o líder do governo na Casa, professor Luizinho (PT-SP), revelou à Reuters um deputado pefelista, que pediu para não ser identificado.
- Provavelmente o governo faça acordo com o PFL para rejeitar o projeto. Isso sairia como uma vitória do PFL - disse a fonte, argumentado que a negociação para enterrar o conselho já está praticamente costurada.
A informação foi confirmada por dois interlocutores do governo, um deles bastante ligado a João Paulo.
O projeto que cria o Conselho Federal de Jornalismo, órgão proposto para fiscalizar, disciplinar e orientar a atividade jornalística, gerou polêmica desde que foi encaminhado ao Congresso pelo Palácio do Planalto.
O PFL aproveitou-se das críticas ao conteúdo do projeto e decidiu hastear bandeira contra a proposta, encampada pelo governo.
Segundo um deputado pefelista, a fabricada vitória do partido serviria para ganhar a simpatia da imprensa contrária ao conselho.
Mesmo que a legenda fature a vitória, que será usada como uma derrota do governo, o Planalto, ao menos nos bastidores, não perde o páreo. O governo entende que já não há condições de emplacar o projeto no Congresso.
- É um jogo de cena. Estão (governo e PFL) dando um tiro no coração de uma cadáver - afirmou à Reuters um interlocutor governista.
A composição com os pefelistas abriria um canal de negociação com o partido, que promete fazer uma oposição sistemática à gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva após as eleições municipais.
O grupo ligado ao senador Antônio Carlos Magalhães (BA), que sempre foi tido como ala governista dentro da oposição, está irritado com o tratamento do governo na corrida eleitoral baiana, na qual não recebeu o apoio do PT, quando isso era possível.
A obstrução dos oposicionistas inviabiliza a agenda de votações e impede que a pauta fique liberada para votar projetos de interesse do governo, como a lei de falências e o projeto das agências reguladoras.
Diante desse cenário, em que há 18 medidas provisórias com prioridade nas votações, não há outra saída a não ser fazer concessões também a grupos adversários.
Um jantar na casa de João Paulo com as lideranças dos partidos na Câmara está marcado para o próximo dia 8 de novembro. Na ocasião, os parlamentares vão discutir o procedimento das votações e apresentar uma lista de reivindicações em troca de "boa vontade" para destravar a pauta.