Decididos a impedir que os atentados desta quinta-feira em Londres ofusquem seu encontro anual, líderes mundiais colocaram a África no centro das discussões nesta sexta-feira, o último dia da reunião na Escócia.
O primeiro-ministro Tony Blair se ausentou da maior parte das discussões de quinta-feira para acompanhar as consequências dos ataques em Londres, mas voltou a Gleneagles durante a noite para assumir as negociações numa causa que ele defende ardorosamente - o aumento da ajuda à África.
Os líderes do G8 (os sete países mais industrializados, mais a Rússia) vão se reunir com dirigentes de sete nações africanas para discutir formas de reduzir a pobreza e conter as epidemias no continente mais pobre do mundo.
Ao final, devem emitir um comunicado conjunto em que os ricos se comprometem a dobrar a ajuda, embora tal promessa não deva satisfazer as expectativas geradas pela campanha "Make Poverty History", antes da cúpula.
A Grã-Bretanha ainda tenta estipular a meta de ampliar a ajuda à África em 25 bilhões de dólares por ano até 2010, mas alguns líderes do G8 não parecem dispostos a fixar cifras ou prazos, devido às incertezas da economia global.
A declaração final do G8 também promete medidas contra o aquecimento global, trata de questões econômicas, como os elevados preços do petróleo, e destaca a intenção de derrotar o terrorismo.
As bandeiras dos países do G8 foram erguidas a meio-mastro em Gleneagles, em homenagem aos pelo menos 50 mortos nos ataques de Londres, atribuído pelo governo à Al Qaeda.
Os líderes do bloco manifestaram solidariedade a Blair, mas disseram que não deixariam as explosões atrapalharem sua agenda original.
O comunicado final do G8 deve frustrar ativistas sociais e ambientais, que viam na cúpula uma oportunidade única para melhorar a vida dos africanos e reverter o aquecimento global.
Os ambientalistas dizem que a declaração inicialmente proposta foi modificada demais por Washington e perdeu o sentido. Os Estados Unidos argumentam que sua economia se ressentiria da redução das emissões de poluentes de carbono, às quais os cientistas atribuem o efeito estufa.
- Graças ao governo Bush, os maiores poluidores do mundo deram pouca esperança àqueles que já sofrem com o aquecimento global, especialmente a África, que será mais atingida pela alteração climática - disse Jennifer Morgan, do grupo ambientalista WWF.
Blair declarou que a miséria africana é "uma cicatriz na consciência do mundo". Sua agenda para o G8 atraiu o relevante apoio de astros do rock que realizaram os concertos Live 8 em quatro continentes para despertar a atenção do mundo antes da cúpula.
Mas outros países do G8, como EUA, Alemanha e Itália, rejeitaram a proposta britânica de dobrar as verbas para a África imediatamente, o que seria feito por meio da emissão de títulos públicos.
ONGs esperavam o anúncio de 50 bilhões de dólares anuais a mais para todos os países em desenvolvimento até 2010.
- Esperamos que sejam anunciados cerca de 50 bilhões de dólares. Isso é pouco demais e tarde demais. De agora até 2010, 50 milhões de crianças vão morrer. Se os líderes do G8 levam realmente a sério a idéia de vencer a pobreza, precisam oferecer dinheiro agora, não dentro de cinco anos - disse Romilly Greenhill, analista da ActionAid.
Mas, na reta final dos debates, não há garantias de que essa meta seja aceita pelos países do G8.
A cúpula, iniciada na noite de quarta-feira, deve terminar pouco depois das 14h (10h em Brasília), com uma entrevista coletiva de Blair.