No mínimo quatro funerárias norte-americanas roubaram membros e órgãos de milhares de corpos para vender os tecidos para transplantes, num esquema confessado por sete donos de funerárias, disseram promotores de Nova York nesta quinta-feira. O suposto líder do esquema é Michael Mastromarino, ex-cirurgião dentista que tinha uma empresa, em Nova Jersey, que vendia tecido humano para transplantes. Na quarta-feira, ele e três outros envolvidos se disseram inocentes de outras acusações, inclusive violação de tumbas e roubo de cadáveres.
- Esses detestáveis ladrões achavam que iriam arrumar o crime do século, roubando ossos dos mortos, sem pensar nas famílias das vítimas ou nos receptores dos transplantes, que poderiam receber enxertos de ossos e tecidos defeituosos - disse o promotor Charles Hynes aos jornalistas.
Um dos corpos possivelmente vitimado é o do britânico Alistair Cooke, durante anos apresentador do programa Masterpiece Theater na TV norte-americana, que morreu em 2004. Promotores dizem que os suspeitos alteraram documentos para mostrar que Cooke morreu aos 85 anos, de enfarte, e não aos 95 de câncer. Não foram identificados os sete donos de funerárias que confessaram nem as acusações a eles imputadas, uma vez que o grupo se dispôs a colaborar na investigação, segundo Hynes. Todos aceitaram a suspensão das licenças de funcionamento e um período de prisão, de acordo com o grau de envolvimento.
Documentos judiciais dizem que Mastromarino e três outros trabalhavam com as funerárias para retirar ossos e órgãos de cadáveres sem o consentimento das famílias, ou de pessoas que não poderiam doar órgãos por terem morrido vítimas de doenças graves. De acordo com esses documentos, a venda clandestina gerava milhões de dólares.
Os quatro indiciados falsificavam atestados de óbitos e formulários de doação para dar a impressão de que os mortos haviam concordado. O transplante de músculos, pele e ossos é comum nos EUA, e o comércio dos tecidos é legal, desde que respeitadas certas condições. Mastromarino e os três outros já haviam sido indiciados em fevereiro por acusações de conspiração, dissecação ilegal e falsificação. Esses indiciamentos foram substituídos pelo de quarta-feira, que inclui também a suspeita do roubo de mais corpos em funerárias de Rochester (Estado de Nova York), Bronx e Manhattan, segundo Hynes.
Os promotores suspeitam que outras funerárias participassem do esquema. Os suspeitos pagaram fiança e estão livres. Cada um deles pode pegar até 25 anos de prisão.