Em matéria publicada na edição desta terça-feira, o diário inglês Financial Times faz uma análise sobre a situação de insegurança em que vivem os trabalhadores da Volkswagen, na capital paulista. Segundo o jornal "a fábrica Anchieta da Volkswagen, sobre um morro ao lado da rodovia que liga São Paulo ao litoral, lembra a rápida expansão industrial dos anos 50".
"Fabricantes de carros como General Motors e Ford estão no Brasil desde o período entre guerras, mas a produção floresceu durante a industrialização do Brasil nos anos 60 e 70, de 30 mil veículos em 1957 para mais de 1 milhão por ano no início dos anos 80. A produção caiu durante os anos seguintes, com a inflação disparada.
"Depois, com a estabilização da economia nos anos 90, os fabricantes de carros do mundo viram aqui uma nova oportunidade. Entre 1994 e 2005, fabricantes de veículos e de peças despejaram US$ 32 bilhões no Brasil, a maior parte no final dos anos 90. Eles gozaram de generosos incentivos do governo, especialmente sob a forma de proteção de veículos importados em uma época em que o resto da economia estava se abrindo.
"O governo também incentivou a produção de veículos "populares", com motores pequenos de 1 litro, uma categoria que teve enorme sucesso entre os novos consumidores brasileiros.
"As quatro grandes tradicionais no Brasil - Volkswagen, General Motors, Ford e Fiat - foram acompanhadas por recém-chegadas como Renault, PSA Peugeot Citroën e Honda, enquanto a produção se expandia novamente para mais de 2 milhões de veículos em 1997.
"Mas o crescimento econômico médio de apenas 2,2% ao ano na última década ficou muito aquém das expectativas dos fabricantes. Conforme crescia a capacidade, a produção caía para 1,3 milhão de veículos em 1999. Abalado pelas crises asiática e russa e a grave crise de confiança em todos os mercados emergentes, o governo brasileiro aumentou as taxas de juros acentuadamente e as vendas de artigos ligados ao crédito, lideradas pelos carros, despencaram.
"Apesar de uma recuperação gradativa desde então, a produção continua muito abaixo da capacidade. Ela deverá atingir 2,6 milhões de veículos este ano, contra uma capacidade de 3,5 milhões. A indústria voltou-se para os mercados de exportação para enfrentar a baixa atividade, mas a moeda se valorizou acentuadamente em relação ao dólar nos últimos três anos.
"O governo está preparando cortes fiscais para os exportadores, uma medida voltada basicamente para a indústria automobilística. Mas o setor precisa mesmo é de crescimento constante - algo que continua fugaz no Brasil".