As Filipinas desafiaram os Estados Unidos e começaram a retirar suas tropas do Iraque nesta sexta-feira, cedendo às exigências dos militantes que mantêm um caminhoneiro como refém. A decisão pode prejudicar as relações entre Manila e Washington, um importante aliado e parceiro comercial.
A medida foi criticada também pela Austrália, mas recebeu apoio da muçulmana Malásia.
A secretária de Relações Exteriores das Filipinas, Delia Albert, disse pela TV que 11 soldados, inclusive o comandante do contingente de 51 homens, deixariam o Iraque já na sexta-feira, para salvar a vida do refém Angelo de la Cruz
Na noite desta quinta-feira, a emissora Al Jazeera divulgou um vídeo no qual De la Cruz, com boa aparência, diz a sua família que voltará para casa em breve. Outra mensagem, de seus sequestradores, diz que ele só será efetivamente solto quando o último soldado filipino deixar o Iraque. Inicialmente, as Filipinas deveriam abandonar o Iraque em 20 de agosto, mas por causa do sequestro o deslocamento foi antecipado.
O comandante filipino no país, general de brigada Jovito Palparan, deveria partir de Bagdá às 8h (de Brasília), disse Albert mais tarde. Os outros dez embarcaram mais cedo para o Kuweit, de onde voltarão a Manila em um vôo comercial. Uma fonte no aeroporto da capital filipina disse que o grupo chegará na segunda-feira.
Parentes do refém vivem momentos contraditórios desde a semana passada, quando ele foi sequestrado. Dias depois, houve rumores, em seguida desmentidos, de que De la Cruz teria sido solto.
"Temos fé na presidente (Gloria Macapagal) Arroyo", disse Francisco, irmão mais novo do caminhoneiro, na sexta-feira em Buenavista, a aldeia da família, ao norte da capital.
Já há uma festa preparada na vila para receber De la Cruz, pai de oito filhos. Toda a área está decorada com fitas amarelas. Há uma grande tenda armada e placas indicando a casa dele.
Apesar da pressão dentro e fora do país, Arroyo ainda não se pronunciou sobre a retirada.
"Não quero ser rude com uma amiga, mas é um erro e não lhes garantirá imunidade (aos filipinos)", disse o primeiro-ministro australiano, John Howard, a uma rádio de seu país. O Japão divulgou nota pedindo a Manila que não se curve aos sequestradores.
Já a muçulmana Malásia foi mais conciliatória. "É uma decisão soberana. Acho que eles levaram em conta o que deveriam levar", afirmou o chanceler Syed Hamid Albar, após reunião com Albert em Manila.
Alguns analistas dizem que a decisão pode levar os EUA a retirarem milhões de dólares em ajuda às Filipinas. "As oportunidades para participar na reconstrução do Iraque agora estão perdidas", alertou o analista econômico José Vistan, da AB Capital. "Outra preocupação é como os EUA, maior parceiro comercial do país, vai reagir à retirada em termos de investimentos e ajuda."
Albert evitou perguntas dos jornalistas sobre a relação com os EUA, mas outros políticos foram rápidos em dizer que tudo continua bem. "Sempre fomos fortes aliados, e acreditamos que essa situação permanecerá", disse o porta-voz de Arroyo, Ignácio Bunye, pela TV.
A segurança dos trabalhadores filipinos no exterior é um assunto importante para a opinião pública, uma vez que dez por cento da população trabalha fora. Esse grupo deve enviar 8 bilhões de dólares ao arquipélago asiático neste ano.