O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sucumbiu à tentação de se afastar do poder e voltou discretamente à cena política. Sob suas orientações, o PFL e o PSDB se reuniram na noite desta segunda-feira em São Paulo para articular uma aliança oposicionista para as eleições presidenciais de 2006 e aprofundar as críticas ao PT desde já.
Durante o jantar na casa de FH, onde imperou a descontração, ficou decidido que a oposição tem que se unir e que não há mais espaço para divergências entre PFL e PSDB, principalmente no Congresso, onde alas dois partidos chegaram a impedir algumas votações no ano passado.
Os dois partidos continuam reticentes ao falar de aliança para as eleições presidenciais de 2006.
"Falamos da volta ao poder sim, mas não fulanizamos'', disse Agripino. O próprio FH, porém, cometeu uma espécie de ato falho durante o jantar que, na avaliação de alguns participantes, pode não ter sido tão falho assim. Ao falar sobre presidencialismo nos Estados Unidos, FHC elogiou o ex-presidente Bill Clinton, sua carreira, que considera brilhante, e comentou:
- O presidente nos Estados Unidos, depois de ser presidente duas vezes, não pode ser mais nada. Aqui no Brasil não.
Segundo relato de alguns, o comentário provocou estranheza, mas não foi elaborado por ninguém. Todos consideram que FHC tenha mesmo pretensões de se candidatar em 2006. "Mas ele não continuou o assunto e nem nós perguntamos'', disse um participante que não quis ser identificado.
Claro que temos o desejo de retomar o poder, mas com um país melhor e não pior'', afirmou Virgílio. "Temos o desejo sim, mas consideramos ser cedo para tratar disso com Fernando Henrique.''
Na visão de Fernando Henrique, impedir as votações poderia dar a impressão de que a oposição quer prejudicar o país. O ex-presidente avaliou que o comando do governo Lula vai mal, mas voltou a orientar a chamada "oposição consciente'', discurso que já vinha utilizando desde a época da transição, relatou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), presente ao encontro.
A próxima estratégia da "oposição consciente'' será agregar outros partidos, como o PDT, com o qual foi marcada uma reunião na próxima quinta-feira.
- Foi fundamentalmente uma demonstração de unidade da oposição... A reunião não teve o objetivo de suavizar nem de endurecer a oposição - disse o líder do PFL no Senado José Agripino (RN), outro convidado. - A oposição entra na sua melhor fase agora, tende a se fortalecer'', acrescentou, mirando as eleições municipais de outubro.
Também estiveram presentes o presidente do PFL, Jorge Bornhausen (SC), o ex-vice-presidente, Marco Maciel, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e o presidente do PSDB, José Serra.
Negociações
As principais lideranças dos dois partidos expuseram ao ex-presidente o que consideram os principais equívocos do governo atual. A avaliação geral é que Lula não tem tido capacidade de comando, que seus programas sociais não têm emplacado e que sua popularidade está em baixa.
- Foi feito um quadro de como está andando o governo, que tem pecado na administração e não atrai investidores... Quanto à política econômica, fizemos críticas, mas também elogios - disse Arthur Virgílio. - Lula vem obtendo uma performance medíocre.
Analistas políticos vêm apontando um recrudescimento da oposição ao governo neste ano com o intuito de impedir o avanço do PT nas eleições municipais de outubro, pois elas tendem a formar as bases de apoio para alavancar as candidaturas à Presidência em 2006.