O Festival de Cinema de Berlim começou na quinta-feira com um épico histórico feito para arrancar lágrimas dos espectadores. Estrelado por Kristin Scott Thomas e Joseph Fiennes, suscitou algumas vaias e críticas contundentes, mas não conseguiu fixar uma posição firme contra o racismo.
A aventura "Man to Man", uma produção anglo-francesa sobre antropólogos do século 19 em busca do chamado "elo perdido" entre o homem e o macaco, atraiu apenas aplausos mornos e algumas vaias do público de Berlim, composto em sua maioria de jornalistas e críticos e conhecido por ser implacável.
Apesar disso, o filme cumpriu suas promessas de glamour, levando seu elenco estelar a Berlim, desafiando o chuvisco constante e os flashes dos fotógrafos para inaugurar o festival de 11 dias de duração que é considerado um dos mais importantes do mundo, depois dos de Cannes e Veneza.
De acordo com jornais alemães, depois do que aconteceu no ano passado, quando os protagonistas do drama "Cold Mountain", que abriu o festival, não compareceram ao evento, o diretor do Berlinale, Dieter Kosslick, estava decidido a não ter que ficar sozinho no tapete vermelho na noite inaugural deste ano.
O drama de 122 minutos de duração do diretor francês Regis Wargnier começa com um antropólogo escocês (Joseph Fiennes) capturando dois pigmeus na África central, em 1870. Ele os leva em jaulas até a Escócia para estudá-los e "provar" os supostos elos entre o homem e o macaco.
Com a ajuda de uma aventureira representada com maestria por Kristin Scott Thomas, o antropólogo se dá conta das falhas em sua pesquisa e rompe com seus parceiros, conduzindo a história a um final trágico.
Para o crítico Peter Zander, do jornal Die Welt, "'Man to Man' poderia ter apresentado argumentos fortes contra o racismo e ter lançado um apelo grandioso em favor do humanismo, mas, em lugar disso, atola no caminho e tem uma conclusão absurda".
"Parece claro que a única razão pela qual Kosslick escolheu esse filme para abrir o festival é que ele traz os tipos de espécimes de que ele mais precisa: um astro e uma estrela."
Em coletiva de imprensa, Fiennes e Wargnier se defenderam da crítica segundo a qual desperdiçaram a chance de fazer uma declaração contra o racismo. Os atores que representam os pigmeus têm papéis pequenos e quase não têm falas.
"Não quisemos fazer um filme contra o racismo, mas mostrar um pedaço de história", disse Wargnier. "Se o público terminar por mudar sua atitude (em relação ao racismo), então teremos conseguido um grande feito. Mas não foi essa nossa intenção."
Fiennes, que no filme passa por uma transformação nobre e acaba protegendo os pigmeus que capturou, contestou os críticos.
"Seria fascinante saber como vocês acham que o filme foi 'desperdiçado"', ele disse a um crítico, numa troca de farpas. "Se você pensar naquela era, houve abusos pavorosos. O filme trata da era vitoriana e das atitudes daquela época."
Sempre uma favorita do Berlinale, Kristin Scott Thomas estrelou "O Paciente Inglês", que em 1997 foi premiado no festival, algumas semanas antes de obter nove Oscar.
Haverá muitos outros astros e estrelas no festival, que chega ao fim em 20 de fevereiro. Ao todo 21 trabalhos competem pelos prêmios principais -- o Urso de Ouro e o Urso de Prata, concedidos nas categorias melhor filme, melhor ator e melhor atriz.
O festival de Berlim vai exibir 343 filmes em sua competição oficial e fora dela. Ele se distingue entre outros eventos semelhantes pelo fato de que 400 mil ingressos serão vendidos ao público para as 1.079 sessões previstas.
Além do foco voltado à África este ano, vários dos filmes a serem exibidos em Berlim tratam da história da indústria pornográfica. Um deles é "Inside Deep Throat", sobre "Garganta Profunda", produção americana de 1972 que teria rendido 600 milhões de dólares.
Embora os filmes de Hollywood devam ter papel central no festival, como de costume, a edição deste ano da Berlinale terá um sabor decididam